Sgt. Peppers: A maioridade do Rock

29/06/2011 - 18h09

Metaforicamente, usaremos o desenvolvimento de um ser humano para falar do desenvolvimento do mais revoltado dos filhos da Mãe África (musicalmente falando): o Rock. 
Em meados da década de 1950, o rock n’ roll e o rockabilly, com suas letras adolescentes descompromissadas e suas harmonias fáceis, com apenas três acordes por canção, representam um bebê ainda não desmamado da mamãe Blues. Ingenuidade é a palavra certa para definir o que a galera do Bill Halley nos EUA e os Fab Four na Inglaterra, com seu iê iê iê que influenciaria a Jovem Guarda no Brasil, andavam tocando nas garagens empoeiradas dos subúrbios. Bailes da primavera e de formatura, com rapazes tímidos de terno xadrez e garotas envergonhadas de vestidos rodados, foram animados por bandas que incluíam sax tenor e contrabaixo acústico (o famoso rabecão) nas suas formações. E assim o rock n’ roll passou os primeiros anos de sua vida, ingênuo como toda criança deve ser... 
No início da década de 1960, com o surgimento de bandas como The Who e Rolling Stones, a adolescência chegou avassaladora à vida do nosso rebelde garoto! A ingenuidade havia ido embora já há um bom tempo. A psicodelia e a lisergia haviam arrebatado o garoto a uma vida intensa e artificial...
Mas foi no ano de 1967 que o garotão nascido no sul dos EUA e criado na Inglaterra atingiu a maioridade. Os Beatles (aqueles mesmos Fab Four do iê iê iê) lançaram, nesse ano, o disco que os levaria à maturidade, elevando o rock a um patamar de arte conceitual, que antes vivia segundo as regras mercadológicas (o que não deixa de ocorrer em partes hodiernamente): The Sgt. Peppers Lonely Heart Club Band! Influências da música erudita contemporânea, com colagens sonoras quase imperceptíveis aos ouvidos leigos e sons de orquestra espalhadas meio que de forma caótica, da arte moderna, com uma capa cheia de referências Pop (figuram rostos desde Karl Marx, pai do Socialismo Científico, até Aleister Crowley, conhecido ocultista do século XIX, autor da famosa frase: “faz o que tu queres, pois há de ser tudo da lei”, que figura na canção “Viva a Sociedade Alternativa”, de Raul Seixas) e letras que beiram o surrealismo e o dadaísmo. Complexo e visceral talvez sejam duas palavras que se encaixem muito bem em Sgt Peppers. Definitivamente, esse foi um divisor de águas no macrocosmo da música mundial, que nunca mais seria a mesma, e também no microcosmo dos então quatro rapazes de Liverpool, que até aquele momento haviam produzido pérolas da música juvenil. Realmente, 1967 é o ano da maioridade do rock. Daí pra frente, quando o garoto assume a vida adulta, com o surgimento do Heavy Metal e do Hard Rock, com Black Sabbath e Led Zeppelin, respectivamente, ou quando ele quer viver momentos de molecagem rebelde novamente, com o surgimento do Punk Rock dos Ramones e do Sex Pistols, é outra história...