Câmara prestigia ato de denominação do Centro Afro de Araraquara

07/04/2011 - 04h38

O presidente da Câmara Municipal de Araraquara, Aluizio Braz (PMDB), e os vereadores, Elias Chediek Neto (PMDB), e João Farias (PRB) participaram do ato de denominação do Centro de Referência Afro de Araraquara, que homenageou o querido e saudoso \"Mestre Jorge\", artista renomado que através de sua arte, desbravou fronteiras, retratando em muitas de suas obras o negro brasileiro. Prestigiaram o momento histórico, o prefeito Marcelo Barbieri (PMDB), secretários, Luiz Zacarelli (Governo), Orlando Mengati Filho (Nino - Educação), Euzania Andrade (Cultura), Jair Martinelli (Esportes e presidente da Fundesport), os representantes, Benedito Santos (deputado federal Dimas Ramalho), Edson Bezerra   (deputado estadual Roberto Massafera), Cristiano Rumaqueli (secretário da Agricultura Ronaldo Napeloso), e Agnaldo Martins (vereador Carlos Nascimento). Presentes ao evento a viuva Ondina Francisca Brandão Coutinho , os filhos Josmar, e Altemar.Em nome da família, o filho Josmar “tomou a liberdade” de iniciar a fala citando trecho do artigo de autoria do professor da Unesp, Zé Pedro Antunes. “Mestre é mestre Jorge, o resto é perfumaria acadêmica... Num tempo em que mestres e doutores se produzem às pencas e a toque de caixa, é de se perguntar se alguma grande civilização se deu a tamanho disparate. Mestre era quem tinha muito bem vivido, produzido o seu saber, desenvolvido sua linguagem, criado suas obras imperecíveis. E isso é mestre Jorge.”Disse Josmar ter sido esta, uma entre as várias reportagens feitas sobre o mestre Jorge, um motivo de orgulho para a família, não somente como esposa, filhos, netos, irmãos, sobrinhos, mas como negros. Afirmou Josmar que quando a coordenadora do Centro de Referência Afro, Alessandra de Cássia Laurindo, comentou no velório que iria solicitar ao prefeito que nominasse o Centro de Referência Afro com o nome do Mestre Jorge, a família sentiu-se emocionada, enfatizando que o sentimento de perda e ausência ainda persiste, mas é um conforto e uma honra para a família esta homenagem. “Apesar do caráter racista de nossa sociedade, podemos dizer que Mestre Jorge, meu pai, nos ensinou por meio de seu trabalho e paixão pela arte ser possível superar barreiras, vencer preconceitos e nos valorizarmos enquanto negros, o tornando um exemplo para os grupos historicamente excluídos”, acentuou Josmar, explicitando ter sido a persistência uma de suas principais virtudes, pois tentou entrar na Academia de Belas Artes de Araraquara, aos 16 anos de idade, mas foi impedido, pois na época alegaram que ele não tinha o ginasial completo. No entanto, após 30 anos, a referida academia o concedeu o título de Mestre.Acentuou que diante do fato de não ter sido aceito na Academia, ele buscou outros meios para expressar suas inquietações, expectativas e anseios. Começou a esculpir em madeira, foi se aprimorando e nas suas obras retratou com muita competência e talento a cultura popular, criando a partir de histórias que vivenciou e ouviu personagens humildes e sofridos, de uma forma singular.Josmar disse recordar das várias homenagens que Mestre Jorge recebeu em vida, com destaque para a do Grupo de Divulgação da Arte e Cultura Negra de Araraquara – GANA. A simplicidade foi uma de suas marcas, como ele dizia: “quero me dar ao luxo de levar uma vida simples como essa que tenho”.Coordenadora Especial da Promoção da Igualdade Racial e do Centro Afro, Alessandra de Cassia Laurindo  afirmou ser aquela noite muito especial, “não só porque estamos denominando esse espaço, mas pela importância do homenageado. Vale lembrar que em inúmeras vezes discutimos um nome para o Centro Afro e estes geraram inúmeras intervenções, pois a comunidade negra é exigente e merece respeito, então teria que ser um nome de consenso, e o Mestre Jorge era assim, sua tranqüilidade prevaleceu no momento da escolha com seu nome e sua luz irradiou a unanimidade, pois ninguém questionou porque o Mestre Jorge”.Lembrou Alessandra ser aquele o segundo prédio público homenageado com nome de negros (o primeiro é a área de lazer Sr. José Fabiano – Seu Fabiano, homem negro, trabalhador e morador antigo do bairro de Santana) que lutaram por nossa cidade, deixando a sugestão ao presidente da Câmara para que “promova alteração na Lei que denomina os prédios e logradouros municipais, para que passe a constar a cor do homenageado (discriminação positiva) para que saibamos que existem sim negros na cidade e que contribuiram com a história, pois muitos não sabem, por exemplo, que o poeta Gonçalves Dias era negro e tinha orgulho de se afirmar como um filho da mistura de raças. Temos algumas ruas com nomes de negros, mas é necessário que nossas crianças possam saber pra poder se orgulharem”.Falando em nome da Câmara Municipal o vereador Elias Chediek  enalteceu a administração do prefeito Marcelo Barbieri que vem reconhecendo o papel do elemento afrodescendente na construção deste País, sua contribuição na arte, na musica, nos esportes, mas principalmente seu papel na formação da sociedade.Para o vereador, o prefeito reverteu com a denominação oficial do Centro Afro a contribuição de Mestre Jorge a arte araraquarense, arte que atravessou  fronteiras levando consigo o nome de Araraquara.“Temos em Mestre Jorge o grande artísta, personagem impar da cultura araraquarense, e fica sua imagem perpetuada neste espaço, espaço direcionado a unidade, a convivência fraterna entre os povos oriundos de várias partes do mundo, pois são muitos aqueles que aqui frequentam, justamente por ser o negro a soma de todas  as raças”.