Trabalho mostra que cálculo renal é mais comum em Doenças Inflamatórias Intestinais do que se suponha
12/04/2011 - 03h04
Estudo da gastroenterologista Dídia Cury, nascida em Bauru, feito em clínica especializada de Campo Grande (MS) com 168 pacientes da região central do Brasil – com co-autoria de prof. de medicina de Harvard – prova que probabilidade de pessoas com Doenças Inflamatórias Intestinais desenvolverem Cálculo Renal é de 38%, mais que o dobro do que se registra na literatura médica.
Um estudo inédito de uma médica e pesquisadora brasileira nascida na cidade de Bauru (SP) e que hoje atua no Mato Grosso do Sul acaba de mostrar que a incidência de Cálculo Renal – a popular “Pedra nos Rins” – em pacientes com Doenças Inflamatórias Intestinais pode ser bem maior do que se registrava até então na literatura médica, digamos, tradicional.
Realizado pela médica gastroenterologista e pesquisadora brasileira Dídia Cury – que hoje atua na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e é também pesquisadora ligada à Escola de Medicina da Universidade de Harvard, nos EUA –, o estudo está sendo apresentado no Congresso Mundial de Nefrologia, que ocorre de 8 a 12 de abril, em Vancouver, no Canadá, considerado o maior congresso do gênero em todo mundo.
Trata-se do estudo “Cálculo Renal em portadores de Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa”, que foi realizado com base em 168 pacientes com as duas principais Doenças Inflamatórias Intestinais, atendidos pela médica numa clínica em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul: foram 93 pacientes com Doença de Crohn e 75 com Retocolite.
O estudo foi realizado em co-autoria com o médico gastroenterologista irlandês Alan Moss, professor do setor de Doenças Inflamatórias da Escola de Medicina da Universidade de Harvard, dos EUA, que realizou todos os “cálculos” médicos necessários para o estudo. A pesquisa foi toda orientada pelo médico nefrologista, brasileiro, Nestor Schor, professor da disciplina de Nefrologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que é quem vai levar o estudo para o congresso em Vancouver.
A pesquisa chegou à conclusão de que pacientes afligidos por doenças intestinais crônicas, como Doença de Crohn e Retocolite, tem alta probabilidade médica de desenvolver Cálculo Renal, doença popularmente conhecida como “pedra nos rins” – uma probabilidade bem maior do que se acreditava até então.
“É um estudo inédito, pois ninguém tinha provado até então que portares de doenças inflamatórias intestinais, como Doença de Crohn e Retocolite, pudessem sofrer com alta incidência de Cálculo Renal”, resumiu a médica Dídia Cury.
Em seu estudo, a médica constatou que 38% dos pacientes com Doença de Crohn e Retocolite desenvolveram cálculo renal com risco de haver perda do rim – um índice que, segundo Dídia, é altíssimo em se tratando de população mundial.
“Até então a literatura médica colocava esse índice em no máximo 15%”, detalhou a médica.A especialista detalha que isso ocorre porque pacientes com Crohn e Retocolite apresentam diarréia crônica e recorrente, que, nesses casos, pode causar diminuição de líquido nos rins, podendo ocasionar, então, os cálculos.
“E nesses casos, o cálculo renal deve ser sempre considerado, pois ele pode gerar a perda do rim, uma situação que, nos pacientes com Doenças Intestinais Crônicas, poderia ser evitada ao se fazer, por exemplo, exames de ultra-som preventivos”, detalhou a médica.
A doutora Dídia explica que isso é importante porque a maioria dos médicos não faz essa investigação dos rins em pacientes com Doenças Intestinais Crônicas, pois ficam “focados” somente no problema do intestino.
Pois será no Congresso Mundial de Nefrologia, que ocorre de 8 a 12 de abril, em Vancouver, no Canadá, que esse estudo será apresentado pela primeira vez – e no formato de “poster”, forma muito comum de se apresentar trabalhos científicos em congressos médicos fora do Brasil.Trata-se de grandes painéis que ficam expostos no recinto do congresso, apresentando os principais dados e conclusões do estudo.
De Campo Grande para Harvard:
Autora do estudo, a médica Dídia Cury, é hoje uma das maiores especialistas do mundo em Doenças Inflamatórias Intestinais.
Tanto que no final do ano passado, Dídia lançou no Brasil, pela Editora Rúbio, um livro que é um marco histórico na medicina brasileira: \\\"Doenças Inflamatórias Intestinais - Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn\\\", escrito, organizado e editado pela própria Dídia Cury e pelo irlandês Alan Moss, da Faculdade de Medicina de Harvard.
O livro se tornou um marco porque, primeiro, representa uma parceria inédita entre uma médica brasileira e um médico professor da Faculdade de Medicina de Harvard, dos EUA, uma das melhores do mundo.
E, segundo, porque é o primeiro \\\"livro-texto\\\" brasileiro de gastroenterologia que trata exclusivamente de um tema que desperta cada vez mais atenção de médicos e pacientes em todo mundo: as doenças inflamatórias intestinais, como Retocoli Ulcerativa e Doença de Crohn.
\\\"No Brasil, não tínhamos até então um livro-texto somente sobre isso. Tínhamos, sim, capítulos sobre o tema, inseridos em livros de gastroenterologia. Além disso, essa parceria com Harvard também é algo inédito\\\", destaca a \\\"parte\\\" brasileira da façanha, a médica Dídia Cury.
Brasileira, nascida na cidade de Bauru, no interior de São Paulo, Dídia trabalha hoje numa clínica especializada em gastroenterologia, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e mantém um extenso trabalho de pesquisa científica que extrapola e muito as fronteiras nacionais, tanto geográficas quanto científicas.
Só para se ter uma idéia, Dídia Cury é Pesquisadora Visitante do Centro de Pesquisa Translacional de Doenças Inflamatórias Intestinais do Beth Israel Deaconess Hospital da Universidade de Harvard, de Boston, dos EUA.
Além disso, trata-se de uma super especialista no tema do livro em questão: Doutora em Ciências Médicas pela Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina (UNIFESP - EPM) e Mestre em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Dídia Cury é Membro da American Gastroenterology Association (AGA) e Membro Titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).