Edinho lança Frente Parlamentar para enfrentar desafios da citricultura

Fotógrafo: João Pires/LBF
17/08/2011 - 02h52

Com ampla representação de todos os setores envolvidos na cadeia produtiva, o deputado estadual e presidente do PT-SP, Edinho Silva, lançou, nesta terça (16), na Assembleia Legislativa de São Paulo, a Frente Parlamentar da Citricultura. Objetivo é elaborar um Plano Estadual buscando aumentar a competitividade comercial e tornar a atividade propulsora da justiça e do desenvolvimento social no estado de São Paulo.?A Frente, coordenada por Edinho, é composta por 26 deputados de diversos partidos.
Representantes dos trabalhadores rurais, dos produtores, da indústria e da pesquisa científica, assim como gestores municipais, estaduais e federais compareceram a fim de apoiar a construção desse espaço de debate e enfrentar as contradições da citricultura. A ideia é obter consensos que levem a políticas públicas que resolvam os graves problemas do setor.
Entre os principais desafios mencionados estão a questão das pragas, a competição com outras bebidas e refrigerantes no mercado externo, assim como o baixo consumo no mercado interno e o impacto da migração de trabalhadores em pequenos municípios. “Precisamos criar espaço de diálogo e formulação de políticas públicas com propostas que se antecipem e garantam o desenvolvimento para gerar emprego e renda, com resultados efetivos para os municípios e para a população paulista”, afirmou Edinho, saudado por todos pela iniciativa.
Segundo ele, muitos o aconselharam a não criar a Frente Parlamentar devido à dificuldade de obter consenso entre os setores da cadeia produtiva. “Não temos que fugir nem ter a pretensão hipócrita de passar por cima das contradições, mas assumir uma pauta para os governos. Não tenho nenhum receio do tamanho do desafio. Vamos debater e criar os pontos de unidade e convergência que possam ser expressos em um Plano Estadual que, depois, poderá ser transformado em Projeto de Lei. Estou muito otimista com os atores aqui comprometidos com essa tarefa.”

Compromisso
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Barros Munhoz (PSDB) disse estar animado com o fato De a Frente Parlamentar ser coordenada por Edinho. Munhoz afirmou que já criticou o governo ao dizer que o orçamento da agricultura do estado é uma vergonha. “Não dá pra tocar os institutos de pesquisas para proteger a cultura contra as doenças da laranja. Muitas vezes, a pessoa que trabalha na terra tem que vendê-la para pagar as dívidas. Isso é um crime.”
Na legislatura passada, a Frente da Citricultura foi proposta e coordenada pelo deputado Davi Zaia, hoje secretário estadual do Emprego e Relações do Trabalho. Ele também participou do evento e, saudando a iniciativa, destacou a citricultura como parte da diversidade da atividade agrícola no Estado. “A citricultura tem um lugar de destaque, pois ainda mantém grande presença de pequenos produtores”. Para ele, é preciso mobilizar as forças políticas para avançar num entendimento sobre as soluções para o setor.
Segundo o Secretário, o atual governo avançou na questão do seguro, criando um modelo de financiamento contra as pragas. O produtor precisa recorrer ao seguro quando precisa erradicar parte da plantação para eliminar pragas como o greening, nova modalidade que ataca as lavouras. Segundo Zaia, 14 mil produtores podem ser beneficiados por esse seguro. “Esta Frente Parlamentar terá o apoio do Governo Estadual por meio da Secretaria da Agricultura, nesse esforço que está sendo feito para garantir preços e para que as pessoas vivam do que plantam, mantendo-as no campo”.
O superintendente federal do Ministério da Agricultura, José de Tadeu Faria, também trouxe o apoio e mensagem do ministro que considera a Frente Parlamentar importante não só para a citricultura, como para toda a economia nacional, devido ao papel que o setor tem para as exportações.
Segundo ele, a citricultura enfrentou momentos difíceis e mostrou sua força e importância, tornando o Brasil o maior produtor de laranja e suco do mundo. “Este é o fórum ideal para se discutir este assunto. A Frente Parlamentar fortalece muito o setor”, disse.
A Secretaria de Agricultura do Estado foi representada por Silvio Manginelli que apresentou as ações do governo, como a subvenção do seguro citrícola. Ele ainda citou as ações de monitoramento e fiscalização sanitária, a geração de pesquisa da Agência Citrícola, entre outros institutos. “Tenho a missão de informar que a Secretaria está sempre disposta a colaborar com qualquer ação da citricultura paulista”.
O presidente da Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo), Élio Neves, ressaltou a importância que a Frente terá como iniciativa no momento em que o Brasil atravessa, que possibilita maior diálogo social. Ele acredita no sucesso de Edinho para isso, pois conheceu sua administração em Araraquara, que proporcionou a maior participação social.
Neves propôs que Edinho se apresse em receber a Feraesp e os trabalhadores rurais para um debate específico e a constituição de uma aliança em torno da citricultura. “Nesse momento do Legislativo paulista, é preciso inaugurar um amplo debate entre os citricultores”, disse.
O presidente da Associtrus (Associação Brasileira de Citricultores), Flavio Viegas, criticou o processo de concentração e verticalização da cadeia produtora de suco de laranja, que está destruindo empregos no estado, que já perdeu 170 mil empregos no setor. “As grandes propriedades têm pouquíssima relação com o município em que se estabelece, trazendo ônus, em vez de benefícios”, disse Viegas, explicando que a chegada de milhares de bóias-frias nas lavouras acaba trazendo forte impacto social nos municípios, que precisam atender às demandas sociais dessa migração, sem apoio da indústria.
Da parte da indústria, Christian Lohbauer, presidente da CitrusBR, considera que vivemos um momento de avanços relevantes, não superficiais, mas técnicos. Segundo ele, é possível ter ampla transparência na abertura dos números da cadeia produtiva.
Segundo ele, o resultado do esforço da Frente pode ser a constituição de uma entidade, o Consecitrus, para levar todos os temas debatidos a uma fase técnica, tornando-se uma oportunidade inédita para avançar.
O pesquisador Marcos Fava Neves, da Fearp (USP Ribeirão), fez uma apresentação do status da citricultura no mundo, hoje, revelando a dimensão que tem para a economia nacional. Ele rebate analistas que criticam o Brasil por ser forte exportador agrícola, em vez de investir em produtos eletrônicos de alto valor agregado. “É com nossa agricultura que compramos o iPad 2”, disse, ressaltando que, enquanto os preços de eletrônicos não param de cair, os preços de commodities se valorizam cada vez mais, devido à escassez de alimentos no mundo e à riqueza natural brasileira.
Ele ainda defendeu que a agricultura brasileira tem alto valor agregado em tecnologia, que poucos dominam no mundo. “É onde somos competitivos”, ressaltou. No caso da perda de mercado da citricultura, o pesquisador diz que o Brasil talvez tenha que investir em outros mercados emergentes, em vez de lutar contra os refrigerantes que se proliferam tomando mercado do suco de laranja natural.
Ainda discutiram a importância da Frente Parlamentar os deputados Geraldo Vignoli (PSDB), Roberto Massafera (PSDB) e o deputado José Zico Prado (PT), assim como presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Citricultura do Ministério da Agricultura, Marco Antonio dos Santos. Estiveram presentes ao encontro também prefeitos de Jaboticabal, Santa Lúcia e Dobrada, assim como representantes dos executivos e legislativos de diversos municípios paulistas. O professor da UNESP de Jaboticabal, José Giacomo Baccharin e o presidente da CUT-SP, Adi dos Santos, também prestigiaram o evento. O vereador Édio Lopes representou o Legislativo araraquarense.