23/04/2011 - 15h04
Do que nós podemos ter certeza nessa vida? O que é certo? O que é verdade e o que é mentira? Um filósofo racionalista conhecido como René Descartes certa vez tentou responder essa pergunta. Ele percebeu que nossas certezas eram baseadas em pressupostos que muitas vezes estavam errados, e toda vez que um pressuposto desses era derrubado, dúzias e dúzias de certezas caíam junto. Vou dar um exemplo. Vamos supor que acreditemos que samba não é bom, e rock é bom. Baseado nesse pressuposto nós vamos ter várias certezas, como a de que shows de rock são melhores, samba não tem boa letra, rock é mais politizado, e outras mais. Até o dia em que você conhece Bezerra da Silva, Vinícius de Moraes, Adoniran Barbosa... E percebe que a sua certeza inicial era na verdade a sua visão sobre o assunto, e nada além disso. E todas as certezas que vêm da visão de alguém, são muito mais relativas do que absolutas e podem ser desmanteladas a qualquer momento.
Então Descartes (o filósofo) tenta então se basear naquelas certezas que não surgem da opinião de uma ou outra pessoa, mas daquelas que surgem dos sentidos. Isso mesmo, os nossos sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar. Porque aquele que vemos e ouvimos não pode ser diferente da verdade, e esse é o caminho para encontrarmos certezas. Entretanto, novos questionamentos aparecem. E a ilusão de óptica que engana nossos olhos? E os sonhos? Nos sonhos, nós vemos, ouvimos e tocamos, e mesmo assim não é real. E se sonharmos que somos uma borboleta, somos de fato uma borboleta? Certamente que não. E não poderia toda a nossa vida como homens ser uma borboleta sonhando que era um homem? Tudo fica ainda mais confuso.
Dessa maneira Descartes vai, de raciocínio em raciocínio, mostrando que não há como ter certezas, pois todas elas estão baseadas em algo que pode ou não ser verdade. Ele faz isso até chegar a sua primeira certeza: a certeza da dúvida. A certeza do questionamento, de termos a possibilidade de não aceitar como real aquilo que chega até nós sem antes refletirmos sobre aquilo. E chega através dessa afirmação na segunda certeza, com a tão famosa frase “Se eu duvido, eu penso, logo existo”. Eu paro por aqui. De certezas, só vou afirmar que existimos e duvidamos das coisas. A proposta dessa coluna é ser um espaço para a dúvida. Temos que parar de aceitar como verdades absolutas tudo aquilo que nos falam sem antes pensar a respeito. Tudo tem uma visão por trás da informação transmitida. Até mesmo o jornal da noite, a novela ou a ciência. Nada é imparcial.
O mundo vive nos impregnando de certezas, daquilo que devemos comer, usar, pensar, fazer, viver. O que achar dos outros, o que achar da política, o que achar da pessoa do outro lado da rua. E quanto as dúvidas? E quanto a parar um pouco e pensar por conta própria? Desconstruir certezas e construir reflexões, inferências, nos livrar de preconceitos e verdades fabricadas. Minha idéia aqui é um lugar de opiniões, com textos sobre coisas relevantes ou que não farão a mínima diferença pra você. Quem é que sabe? Eu é que não tenho certeza. Somente acho que esse é um espaço para duvidarmos.