Autor: Luciano Nascimento - Repórter da Agência Brasil - Brasília
21/08/2021 - 15h38
Cidade
A 1ª. Ferrovia da Europa foi a que ligou as cidades de Liverpool a Manchester, inaugurada em 1829, logo após a invenção da locomotiva. O Regente Feijó, então, baixou o primeiro decreto a respeito favorecendo a construção de Estradas de Ferro no Brasil. Finalmente, em 1852, com a Lei nº.641, de 26 de junho, o governo foi autorizado a conceder “...a uma ou mais empresas..”, o direito de construir um Caminho de Ferro que fosse terminar nas Províncias de São Paulo e Minas Gerais. O prazo era de 90 anos, garantia de juros de 5%, e a obrigação por parte da Companhia signatária de não possuir escravos.
A 1ª. Ferrovia
Rio de Janeiro, abril de 1854. No pequeno Porto de Mauá, nos fundos da Baia da Guanabara, inaugurava-se o primeiro trecho Ferroviário do país. Eram apenas 14 quilômetros, mas marcava o início da rica história Ferroviária no Brasil. Naquele pequeno trecho, entre as praias de Mauá, no município de Magé, e a Estação de Fragoso, havia, então, uma humilde Estação de precárias instalações.
Depois da inauguração, no entanto, seus frequentadores habituais nada tinham de humildes: D. Pedro-II e seus familiares pegavam um barco a vapor na Praça 15, seguiam até Mauá, e de lá tomavam a locomotiva Baronesa, a primeira do Brasil.
O trem, na época, encurtava o caminho até Petrópolis, já que antes, o trajeto era feito em carruagens. As instalações, o trem, a comodidade e, para o período, a modernidade de tudo aquilo, tanto empolgaram o Imperador que ele concedeu o Título de Barão ao empreendedor responsável pela Estrada de Ferro, o empresário Irineu Evangelista de Souza. A partir de então, o Sr. Irineu passou a ser conhecido pela história do Brasil como “Barão de Mauá”.
Ligação Santos-Jundiai
A ligação Santos-Jundiai foi autorizada pelo decreto nº.1759, de 26 de abril de 1856, sendo incorporadores o Marquês de Monte Alegre, o Conselheiro Pimenta Bueno e o Barão de Mauá, que cederam seus direitos a uma empresa britânica. Os trilhos já apontavam para o interior.
Inauguração em Araraquara
A inauguração do tráfego provisório do prolongamento da Estrada de Ferro entre São Carlos do Pinhal e Araraquara, se deu em 18 de setembro de 1885.
O trem deixou Rio Claro perto das 11 horas da manhã, chegando a Araraquara às 16 horas. Assistiram a solenidade o Presidente da Província de São Paulo, Dr. Miranda Azevedo, Sr. Visconde do Pinhal, Cel. Stanislau de Oliveira, diretores da Cia, funcionários da Estrada, além de representantes da imprensa da capital.
Os grandes jornais da época descreveram assim o acontecimento: “...houve grande entusiasmo, musica, foguetes e discursos...seguiu-se lauto jantar offerecido pelo povo araraquarense...e a noite houve baile...”.
Visita Imperial
O dia 6 de novembro de 1886 marcou a história de Araraquara como tendo sido aquele em que ocorreu a visita oficial de D.Pedro-II a cidade.
O Imperador e seus acompanhantes, segundo os registros da época, deixaram São Carlos do Pinhal exatamente às 7 horas e cinco minutos com destino a Araraquara, que no período, era o ponto terminal do tronco Ferroviário da Companhia Rio Claro.
Depois de andar pelas ruas da cidade e adentrar a igreja Matriz, onde assistiu a uma missa em sua homenagem, D.Pedro-II foi levado pelos Srs.Cel. José Pinto Ferraz, e Major Joaquim Duarte Pinto Ferraz, até a casa do Sr. Margarido da Silva, onde lhe foi oferecido um almoço.
Segundo publicado no jornal “O Comércio”, o Imperador, depois de saudar o povo araraquarense, deixou a cidade exatamente às 11 horas e 35 minutos.
Cia. Estrada de Ferro de Araraquara
Em 1886, por iniciativa do Sr. Carlos Baptista Magalhães, e um grupo de agricultores, formou-se uma pequena empresa, que mais tarde viria a ser a Cia. Estrada de Ferro de Araraquara (E.F.A.). O capital inicial da Cia. era de 2.000:000$000 dividido em ações de 200$000 cada uma.
A empresa foi instalada em São Paulo, porém, sem ser feita a Sessão de constituição e Instalação da Sociedade em razão da epidemia de febre amarela que assolava todo o estado. A 1ª. obra da Cia. foi a construção da via férrea que ligava Araraquara a Matão.
Pouco tempo depois, construiu-se a linha até Ribeirãozinho, hoje Taquaritinga, com os trabalhos tendo sido concluídos no ano de 1901.
Por problemas financeiros, em virtude da grande crise que a lavoura atravessou no período, a Cia. paralisou todas as suas obras, que foram retomadas em 1908, com a ajuda do Governo do Estado que decretou a concessão do prolongamento da via férrea até a cidade de São José do Rio Preto, cujos marcos, levavam até as divisas do Mato Grosso e Minas Gerais. A partir daí, nunca mais a EFA deixou de crescer.
EFA – Rápidas e Curtas
* Uma carta enviada por um araraquarense a um colega, funcionário da E.F.A que prestava o Exército no Mato Grosso, no ano de 1929, ilustra bem o que era a Estrada de Ferro de Araraquara: “...por aqui é só chuva...o Atibaia subiu tanto que extrapollou cobrindo uma extensão de 4 kilometros e está ½ acima da ponte (dos trilhos)...assim mesmo a Cia Paulista está passando...o Mogy também subiu muito em Guatapará e outros lugares...a Paulista, a SPR, a Noroeste e outras estão com o tráfego bastante irregular..e outras com elle paralyzado...de São Paulo a Santos e vice-versa, não há trem de espécie alguma...a nossa E.F.A. é um caso isolado...no tronco está firme,trazendo seus trens em rigoroso horário...nosso pessoal soube reparar os pontos fracos...”.
• No ano de 1964 a E.F.A. investiu Cr$40 milhões de cruzeiros na ampliação do armazém de cargas de Catanduva, 20 milhões no termino da construção do armazém de carga de Jales, 362 milhões na aquisição de caminhões, empilhadeiras, pontes rolantes e máquinas diversas, 420 milhões na construção de carros e vagões, 830 milhões em melhorias na via permanente, 442 milhões em obras e outros equipamentos, 107 milhões em sinalização e comunicação e, finalmente, 421 milhões em material rolante. Tudo isso, mais a conclusão do Edifício do Escritório Central.
• No ano de 1963, a E.F.A. transportou 2.737.155 passageiros, sendo que, foram 254.123.020 pessoas por quilômetro percorrido. No transporte de cargas, foram 707.727 toneladas, sendo 126.575.041 toneladas por quilômetro rodado.
• A Estrada de Ferro Araraquara chegou a ter 3.000 funcionários em seus diversos setores, departamentos e repartições.
• A extinta Estrada de Ferro Araraquara foi, sem dúvida, uma grande escola. Formadora de valores, seus mestres, professores da Escola que a Estrada mantinha para educar e treinar seus funcionários, eram exigentes e, às vezes, intransigentes na busca da disciplina e do cultivo a cultura que tentavam, diga-se de passagem, com sucesso, ministrar às centenas de homens e mulheres que passavam por suas mãos. Grande parte deles, aliás, ingressaram na EFA apenas com o curso primário.
Lá dentro, aprendiam Português, Matemática, Contabilidade e tantos outros Ofícios, que quando chegava o momento da aposentadoria a pessoa estava pronta para desenvolver atividades variadas na vida privada.
E assim, pela E.F.A., Araraquara ganhou muitos educadores, jornalistas, comerciantes e tantos outros excelentes profissionais nas mais diversas áreas e atividades. A E.F.A, que chegou a ser considerada a mais bem organizada Estrada de Ferro do Brasil, foi um gigante.
Um inesquecível gigante.