Especialista da Uniara fala dos problemas climáticos da cidade e região

Entre os diversos fatores, o crescimento e a falta de espaços verdes podem afetar o chamado micro-clima

20/01/2012 - 04h49

O crescimento desordenado dos centros urbanos tem causado vários problemas aos próprios moradores como inundações, desabamentos e calor excessivo. No verão, este cenário é ainda mais comum, por conta das chuvas que são mais intensas. Adalberto Cunha, professor do curso de Biologia do Centro Universitário de Araraquara – Uniara, explica que a ação humana interfere diretamente no equilíbrio do clima de cada região e que isto é prejudicial ao meio ambiente.
O docente explica que o clima é a junção de vários fatores como temperatura, umidade relativa do ar, ventos, altitude e pressão atmosférica. Segundo ele, o homem, na maioria das vezes, altera esse equilíbrio de forma muito drástica e, com isso, a natureza “revida”, por meio dos desastres naturais.
“Existem estudos que mostram que a humanidade alterou o clima, de uma forma mais rápida, no período de 1950 a 2010. Há também estudos que apontam que o próprio planeta tem uma regulação própria e passa por diversas fases. Entretanto, o que percebemos é que as civilizações estão fazendo uma interferência maior, principalmente em climas locais e regionais, e isso acaba afetando as comunidades que vivem nestas áreas. O que ainda não temos pleno conhecimento é da amplitude dessa interferência, o quanto ela pode alterar o ambiente de maneira severa e irreversível”, afirma Cunha.
De acordo com o docente, as características de cada região variam muito, mesmo em distâncias pequenas. Ele cita como exemplo a diferença do clima entre Araraquara e São Carlos. “Como tem uma altitude diferente em relação à Araraquara, há mais variação climática. Tanto que as pessoas brincam que São Carlos é a cidade do clima, porque lá ocorre uma grande variação climática no mesmo dia. Isso é uma característica da localidade, do seu espaço geográfico”, afirma.
Cunha ressalta também que “é importante lembrar que a Terra é um planeta que tem inter-relações.
Às vezes um verão muito úmido na Amazônia, pode gerar, daqui a seis meses, um excesso de chuva na costa da Europa. Toda alteração em um local provoca reações em outro”, exemplifica.

Temperatura

O professor acredita que as ilhas de calor são um dos principais problemas relacionados à intervenção humana. “Nos grandes centros urbanos, existe uma quantidade enorme de construções, muitas vias, carros e pouca área verde. A lei da física diz que tudo que se movimenta gera calor. Esse movimento libera calor de uma concentração grande em um espaço pequeno. À essa fenômeno damos o nome de ilhas de calor”, aponta.
“Aqui na nossa cidade percebemos nitidamente que algumas regiões do centro transferem um calor muito menor do que outras. Um exemplo comum acontece quando estamos caminhando pelas ruas centrais e entramos na arborizada rua Voluntários da Pátria, mais conhecida como “rua 5”. A mudança num dia de calor é fantástica”, declara Cunha.
Ele explica que as cidades precisam encontrar um equilíbrio entre a sua expansão e a criação de as áreas de diluição/redução do calor, já que estas áreas afetam diretamente a saúde das pessoas e refletem a qualidade de vida da cidade.

Chuvas e impermeabilização

Cunha afirma que, além de ajudar a controlar o calor, as áreas verdes dentro da cidade ajudam também no escoamento das chuvas. “As áreas verdes fazem com que a água penetre no solo. Mas se toda a cobertura for impermeabilizada, a chuva não consegue ser absorvida e escoa para algumas regiões mais baixas da cidade”, explica.
Para Cunha, Araraquara é privilegiada, pois não há muitos morros em sua topografia, fato que diminui o a quantidade de desbarrancamentos. “Porém, nós temos problemas, por exemplo, na região da rodoviária, que recebe muita água dos bairros ao redor, principalmente da Vila Xavier e do Centro, que são regiões muito impermeabilizadas. Com isso percebe-se que a vida e o ritmo da cidade muda. Aliás, tudo muda completamente quando temos chuvas em grandes proporções”, finaliza o docente.