31 anos da FC: O que é um jornal?

Autor: Moacir Silberschimidt
09/02/2012 - 03h08

“— O que é um jornal? — perguntou a menina.
É um papel cheio de palavras e fotografias.
É feito de muita gente, de gente como nós.
É uma grande notícia ou uma pequena notícia, sobre povos distantes e o povo que mora ao lado.
É felicidade e tragédia, riso e choro, é uma canção muitas vezes repetida.
É governo, do presidente ao Congresso, do governador à legislatura, do prefeito ao conselho municipal, e em todas essas ramificações, um olhar inquiridor sobre seus atos.
É a polícia, o bombeiro e outras ocupações perigosas.
É negócio, é indústria, é vitrina para os comerciantes apresentarem seus produtos. É anúncio à procura de um cachorrinho desaparecido.
É registro de tudo o que acontece ao povo; de quem fez algo, quando, onde e por quê.
É a descrição de um vestido de noiva; é recém-casado procurando apartamento.É boas-vindas a um novo pastor, é culto à igreja, é adeus a alguém que se retira depois de longos serviços prestados.
É o longo caminho, a volta ao lar, o escore de boxe, é a boa partida de futebol.
É a sugestão para uma receita, um plano para melhorar seu lar, um pequeno conselho a alguém aflito.
É a primeira neve que cai, o amanhecer da primavera, o dia mais quente do ano. É também o dia tortuoso como as beiras das folhas que caem no outono.
É sobre a lida diária do jovem que vai e volta da escola. O que faz e aprende com os professores.
É sobre parques, férias e lugar para passear e como lá chegar.
É a praia, o bom cantinho de pesca no verão, é o ficar sem fazer nada.É a produção e o progresso, o novo e o velho produto.
É ajuda e serviço profissional, é a notícia do que se faz nos hospitais e nas clínicas.
É um boletim sobre a igreja, o templo, a sinagoga.É a notícia de uma organização de veteranos, serviços de clubes, é um chá à tardinha.
É a maior coletânea diária de palavras e fotografias já reunidas.
É a grande estória, a pequena estória, a ficção. É o retrato, a fotografia crua, a página fotográfica de grandes acontecimentos. É a opinião do redator, a divergência do leitor, o pensamento do colunista. É a explicação de muitas coisas. É o jogo de palavras cruzadas, a página cômica, o quebra-cabeças.
É um estilo nem sempre literário porque representa a linguagem do povo. Porque grande parte dele é o que o povo diz.
É um redator com seu chapéu engraçado de papel, um linotipista colocando habilmente os tipos lado a lado, um agente de publicidade convencendo o anunciante a contar a sua estória, um repórter batendo em sua máquina, é o jornalista tirando cópias e preparando os cabeçalhos, é um fotógrafo tentando um último instantâneo. É um pequeno jornaleiro assoviando pelas ruas às quietas horas da madrugada.
É um espelho da vida. Uma parte da vida tão importante quanto o relógio e o calendário.
É o papel cheio de palavras e fotografias. 

Como este.
Este artigo é de autoria de Fred J. Curran, do “Wiscounsin State Journal”, dos EUA e publicado no “Editor & Publisher”, transcrito no “Correio da Manhã”, de 7/5/1964, em tradução de Célia Mentges e extraído do livro de Luiz Amaral, “Jornalismo: Matéria de Primeira Página”, das “Edições Tempo Brasileiro Ltda.”, Rio de Janeiro, 1967.
O mundo mudou de lá para cá. A web, a internet, o computador, com as redes sociais, transformaram as comunicações. No entanto, é de se perguntar se o leitor do jornal impresso também se transformou.
Segundo reportagem publicada na “Folha de São Paulo” de 29/1/2011, baseada em pesquisa da Universidade de Oregon nos Estados Unidos: a) os leitores de impresso tendem a ser mais metódicos; b) eles se lembram mais das notícias publicadas no jornal do que o leitor on-line; c) eles entendem mais a essência de cada texto; d) na leitura pela internet há pouca concentração e e) na publicidade, o leitor do jornal impresso lembra-se mais do que o do on-line. De onde chega-se à conclusão de que o jornal impresso, apesar de toda a moderna tecnologia da web, ainda é o mais importante veículo de comunicação, sobretudo em termos de conteúdo.  
A “Folha da Cidade”, que completa mais um aniversário, hoje, 9 de fevereiro, está de parabéns. E seus proprietários, Jolindo, o diretor e a Aparecida (a querida Cidinha), editora, mais ainda. 
Mas não somente eles. Também toda sua equipe: a Alessandra e a Neuza Martim, do departamento comercial; a Valesca, jornalista; o Marco e o Moacir diagramadores e o Manoel, repórter policial e o entregador Michel, que com denodo e sacrifício, conseguem editar um jornal diário, sempre mantendo um alto nível, com ética e responsabilidade. Uma tradição de nossa cidade. Minha singela homenagem aos colegas e amigos da “Folha da Cidade”.
*Jornalista e colaborador da Folha da Cidade