Perigo à vista: Sugestão para um trânsito menos perverso

Fonte: Ana Maria Souza Lima Fargoni * 18/02/2012 - 14h59

Com o espantoso aumento do número de veículos trafegando nas cidades, o trânsito, já se sabe, está à beira de um colapso. Desse modo, motos e carros se atropelam nos “leitos carroçáveis”, como são tecnicamente denominadas as ruas e avenidas. E os condutores dão-se por felizes, quando apenas sofrem danos materiais. O comum é se ferirem, em graus variados de severidade, muitas vezes, vindo a óbito ou carregando graves sequelas pelo resto de suas vidas.

E quanto ao pedestre? Para ele, há, nas esquinas mais movimentadas, uma faixa que lhe é exclusiva. Assim, quando o sinal vermelho interrompe o trânsito da via, o pedestre pode atravessá-la com tranquilidade. É o momento mais democrático no processo de ir e vir: cada um tem a sua vez.

Ocorre, porém, que, para cumprir a jornada de somente atravessar na faixa, o pedestre não pode caminhar em linha reta; se não quiser correr risco nenhum, tem de andar em zigue-zague! As tais faixas especiais, unindo os passeios dos vários quarteirões, são intercaladas e distribuídas, ora à esquerda, ora à direita da via. Assim, quando o semáforo se fecha para uma, imediatamente se abre para a outra, em alternância sincronizada. Se o pedestre estiver, por exemplo, à esquerda de uma rua, caminhando em direção à faixa livre, ele atravessará com sucesso o cruzamento. No entanto, se em seguida, ele não tiver a precaução de mudar de calçada (realizando o movimento sinuoso), estará diante de um problema: na próxima esquina, a faixa fica à direita! E se, obstinado, quiser permanecer no mesmo rumo, tem de aguardar que duas variáveis ocorram juntas; ou seja: é preciso que, enquanto o sinal estiver fechado para uma via, a outra ─ a de sinal aberto ─ esteja livre de trânsito, pois no cruzamento, algum motorista pode dobrar a esquina, tomando a avenida... Só então, o pedestre pode atravessá-lo. Caso contrário, fiando-se apenas no sinal vermelho de um lado, pode ser tolhido pelo verde do outro.

Dessa constatação se conclui que o sistema de faixas exclusivas para pedestres cumpre o seu papel pela metade; por isso é importante repensá-lo. Não seria conveniente a ideia de se programarem os semáforos, para uma interrupção na qual a cor vermelha bloqueasse ─ sincronicamente ─ o trânsito nas duas direções? Aí, sim, seria o tempo exclusivo da travessia dos pedestres, da esquerda e da direita das vias. 

Quando a faixa do pedestre é por ele inalcançável, esse fato pode originar um atropelamento que faz duas vítimas: o atropelado e o atropelador!  Envolver-se em acidentes, mesmo sem vítimas, já é um dano moral bem grande. Imagine ter de arcar com desventuras mais trágicas! 

A presença de faixas ininterruptas nos cruzamentos, à esquerda e à direita das ruas e avenidas, asseguraria ao pedestre o direito de caminhar sem sustos, em linha reta; e os motoristas estariam livres da probabilidade, cada vez mais real, de atropelar pessoas.

* Ana Maria Souza Lima Fargoni é professora e escritora