Edinho quer presença do Governo Estadual para esclarecer denúncias contra Hospital do Câncer de Mogi

Usuários do SUS lotam auditório da Assembleia, defendem a instituição e negam acusações de irregularidades apontadas em auditoria

15/03/2012 - 02h08

O deputado estadual e presidente do PT do estado de São Paulo, Edinho Silva, propôs à Comissão de Saúde da Assembleia a convocação de representantes do Governo Estadual na área para uma reunião com a finalidade de discutir e apurar os fatos que envolvem o Hospital do Câncer “Flávio Isaías Rodrigues”, de Mogi das Cruzes.
Para o parlamentar, é necessário ainda que se façam presentes das pessoas responsáveis pela auditoria realizada na unidade, que resultou em graves denúncias, além da própria diretoria do Hospital. “Este encaminhamento tem como objetivo estabelecer a verdade e evitar que o conflito entre o Governo do Estado e a unidade de atendimento oncológico prejudique a população”, explicou o parlamentar. A proposta de Edinho foi acatada por unanimidade pela Comissão.
O assunto esteve na pauta da Comissão na tarde desta terça, dia 13, devido a uma iniciativa do deputado da região Luiz Carlos Gondim (PPS). Embora o relatório preliminar da Secretaria de Estado da Saúde aponte irregularidades na gestão e no atendimento, usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) que são assistidos pelo Hospital do Câncer de Mogi lotaram o auditório para fazer a defesa intransigente da unidade. Todos discordam das acusações feitas e temem a destruição pública da imagem do hospital, bem como dos profissionais que lá trabalham.
“Quando soube que tinha câncer, minha filha pensou em buscar socorro em São Paulo. Mas eu fui atendida no Hospital de Mogi. Consegui consulta em menos de 12 dias. Fui muito bem tratada e hoje considero aquele local como um espaço de amigos”, disse uma das pacientes presentes na atividade. Já outro usuário negou qualquer pagamento pelos serviços prestados no local. “Nunca paguei nada. Nunca me pediram nada. Também não teria dinheiro para isso”, argumentou.
De acordo com o governo do Estado, a auditoria preliminar apontou que o centro oncológico de Mogi "não tem condições de funcionar como Unacon (Unidade de Alta Complexidade em Oncologia)”. Pesam sobre o Hospital denúncias de duplicidade de pagamento pelo SUS, conduta exacerbada (quando a equipe age sem consentimento do paciente), irregularidades em prontuários, entre outras. “Trata-se de perseguição política”, afirmou um vereador da cidade. Já outro usuário da unidade rebateu as denúncias. “Eles nunca visitaram o hospital. Fizeram a auditoria por meio dos prontuários de atendimento”.
Em sua intervenção, Edinho disse que como prefeito de Araraquara por dois mandatos consecutivos conhece as falhas de gestão, ocasionadas, muitas vezes, pela dificuldade de controle ou cruzamento de informações entre pacientes da medicina privada e usuários do SUS. “É preciso apurar. O que não pode é que diante dessa vulnerabilidade do sistema, muitas vezes destruir a imagem de um hospital e de pessoas que voluntariamente assumem a responsabilidade de conduzir os rumos de uma unidade de atendimento à saúde”. “É a credibilidade de um hospital que atende SUS, portanto a população que mais precisa, colocada em risco”, continuou.
Para o deputado, se há uma denúncia, é papel da DIR (Diretoria Regional de Saúde) intervir e se posicionar de forma transparente. “Só chamando essa reunião com profissionais da Secretaria do Estado, representantes da auditoria e a Diretoria do Hospital que estaremos dando condições para que a unidade oncológica possa se defender. Estaremos, efetivamente, criando as condições do contraditório nesta Casa”.
O superintendente do Hospital, Flávio Isaías, presente no ato, falou sobre a trajetória e apresentou um levantamento histórico do hospital que tem 30 anos de serviços prestados. Recentemente, o local recebeu investimentos para o atendimento aos pacientes oncológicos. Somente com equipamentos e na construção das salas foram de R$ 5,9 milhões sendo R$ 3 milhões apenas na compra do aparelho de acelerador de partículas. Com a credibilidade totalmente arranhada, o hospital que antes recebia 100 novos pacientes com câncer por mês, agora não recebe mais nenhum. “Para onde estão indo esses cem pacientes? Essa é a pergunta”, disse um médico da equipe indignado.

PSDB barra discussões sobre saúde propostas por Edinho

Mais uma vez, a base do governo Alckmin se articulou para barrar iniciativas deputado Edinho Silva na Comissão de Saúde.  Essa semana foi a vez da Deputada Ana Alice Fernandes (PSDB) pedir vistas aos requerimentos do presidente do PT do estado de São Paulo. Na última semana, Carlão Pignatari, também do PSDB, tomou tal atitude.
“Infelizmente a saúde virou alvo de disputa política na Assembleia de São Paulo”, disse Edinho.
Carlão Pignatari também foi o responsável pela manobra da base de apoio ao Governador Alckmin que culminou na não realização de um evento oficial no Dia Internacional de Conscientização das Doenças Raras. A Assembleia de São Paulo foi uma das poucas do Brasil a não ter uma atividade formal nesta data.
Um dos requerimentos de Edinho reapresentados na Comissão de Saúde tem por objetivo debater o novo modelo de gestão que a FURP (Fundação do Remédio Popular) está implementando no estado, utilizando-se da chamada Parceria Público-Privada. “Esse é um assunto que interessa muito à população paulista. Em Américo Brasiliense, interior do estado, a unidade inaugurada em 2009 pelo então governador José Serra até hoje não opera nem com 1,5% de sua capacidade. Segundo o Secretário Estadual da Saúde, a busca pela Parceria público-privada é o motivo da demora no funcionamento dessa e de outras unidades pelo estado. Queremos entender como se dará esse modelo”, disse Edinho.
O outro requerimento de Edinho propõe o convite ao Edson Silva, Coordenador Arquidiocesano da Campanha da Fraternidade para ir até a Comissão da Assembleia para falar sobre os objetivos e estratégias da Campanha que trata sobre a saúde pública no Brasil. Edinho lamentou o pedido de vistas e a notória partidarização do processo.