Locomotiva seguirá trilhando seu caminho no futebol paulista e nacional
13/04/2012 - 03h05
Nesta quinta-feira, dia 12 de abril de 2012, a Ferroviária completou 62 anos de fundação e, ao longo dessas seis décadas, os esforços da "gente afeana" para que as bandeiras grenás permanecessem tremulando na Fonte Luminosa, certamente foram similares aos desafios do sistema ferroviário no Brasil perante a "era rodoviária".
Talvez seja por isso que a história do o ex-clube da Estrada de Ferro idealizado pelo engenheiro Antônio Tavares Pereira Lima, que embalou firme seus aficionados nos trilhos da emoção, tenha uma trajetória intrinsecamente ligada ao apogeu e declínio das ferrovias. Felizmente a AFE seguiu adiante e, por todo o simbolismo e riqueza de resultados alcançados no decorrer de sua trajetória, é um time querido não apenas pelos araraquarenses, mas também pelos admiradores do time espalhados por todo o país.
A Ferroviária nasceu forte em 12 de abril de 1950, pois seu berço foi embalado pela EFA, que em pouco tempo deu condições não apenas para o futebol profissional formar fileiras fortes e competitivas, mas ainda para a implantação de um patrimônio invejável para os padrões da época.
Muitos afirmam que, amparada pela Estrada de Ferro, a AFE nasceu rica! Até porque, não fosse o respaldo da Estrada de Ferro, dificilmente um clube recém-fundado estaria disputando, dois anos depois a final da Segunda Divisão, e, com mais três de existência, angariando uma vaga na elite do futebol paulista.
Curiosidade
Um dado curioso é que a AFE no início de suas atividades não era o clube mais popular da cidade.
O São Paulo e o Paulista eram queridos pela população e, após o surgimento da ADA (Associação Desportiva Araraquara) em 1952, a entidade assistencial Cristo Rei lançou a campanha para saber qual o time tinha a simpatia da cidade.
A ADA ganhou, pois a AFE era vista como o time da elite. Não poderia ter sido diferente, pois uma agremiação que em pouco tempo causara tanto alarde e criara tamanha revolução no futebol local, de fato iria provocar estranheza e, por que não dizer, uma certa inveja numa ala da população. Porém, em pouco tempo a Ferroviária se tornou não só o time mais querido da comunidade, mas também a equipe do coração de todos os araraquarenses.
Como já dito, as metáforas com a ferrovia, mesmo numa realidade em que o clube-empresa é a solução, tornam-se válidas, pois nos ensinam a aprender com os sucessos angariados pelo time, além dos infortúnios que algumas vezes transpassaram os corações grenás.
Mesmo com os dois revezes no atual quadrangular final da Série A-2, o sentimento do torcedor é de otimismo em torno do futuro do time, além de uma perspectiva de dias melhores para a Locomotiva. Sempre será assim! Nos últimos anos a time proporcionou emoções diversas: o acesso perdido em 2006, a inédita conquista da Copa FPF no mesmo ano, que resultou em participação na Copa do Brasil; o acesso à Série A2 em 2007, rebaixamento em 2009, retorno em 2011 e a expectativa na volta o quanto antes a Primeira Divisão, posto que AFE ocupou em 40, dos seus 62 anos de fundação.
Antes mesmo de atingir sua maioridade, com apenas dez anos de fundação, a Ferroviária já havia excursionado três vezes ao exterior, em 1960, 1963 e 1968. Na mesma década foi Tricampeã do Interior (1967-68-69). Enquanto a AFE fazia bonito nos gramados, a EFA ainda era detentora de prestigio com o transporte ferroviário, porém o desenvolvimento industrial no país, marcado pela substituição de importações e a implantação da indústria automobilística, começava a concorrer para o declínio das ferrovias e a abertura de novas rodovias.
No transcorrer dessa viagem, assim como as ferrovias se depararam com o surgimento de rodovias cortando todo o país, as adversidades também foram apresentadas para a Ferrinha dentro de campo. Quando as ferrovias passaram a encontrar dificuldades, com a AFE não foi diferente, já que o esquadrão grená descarrilou em 1965, e houve a queda para a Segunda Divisão.
Ao passo que o sistema ferroviário brigava para ainda ser um transporte popular e rentável, a Ferroviária, agora com Aldo Comito, Bazani e Fogueira, lutava bravamente, recuperando um ano depois seu posto na Elite do Estado, numa campanha memorável, de apenas três derrotas no certame.A nova ordem econômica e industrial exigia novos rumos ao país. O desenvolvimento da produção industrial concorreu para o surgimento de outros eixos de ligação, a fim de facilitar a entrega e o recebimento de produtos, peças e matérias-primas. Enquanto isso nos gramados, a ligação era feita por Bazani, a entrega passava pelos pés de Maritaca, Bebeto e Fogueira, enquanto Peixinho, Téia e Pio recebiam a matéria-prima bola para o serviço final.
Façanhas
O sistema ferroviário do estado não tinha condições de satisfazer tais exigências, pois foi implantado sem ligações com outras regiões, exclusivamente para escoar a produção cafeeira até o porto de Santos. E por falar no litoral paulista, o alvinegro praiano de Pelé encontrou poucas facilidades em suas estadas na Morada do Sol: 4 a 0 (1960) e 4 a 1 (1971) foram dois dos golpes aplicados pelo onze grená, que com o Trio BBB (Bazani, Beni, Baiano) duelava de igual para igual com o Trio PPP (Pagão, Pelé e Pepê).
Os trens resistiram enquanto puderam, e o time, após campanhas memoráveis na década de 50 e 60 (apogeu da EFA), deparou-se com os difíceis anos 70.
A diminuição da extensão das ferrovias nos idos anos 70 deveria ter culminado com melhorias da rede até então existente, mas o empecilho referente à diferença no tamanho das bitolas se manteve, o que confirmou que as ferrovias do estado não haviam avançando tecnicamente.
Em campo, é verdade que as campanhas vitoriosas de outrora não se repetiam, e a técnica já não era tão apurada, mas, mesmo assim, obtivemos triunfos dentro e fora dos gramados: a Taça dos Invictos em 1972 e a posse definitiva da Fonte Luminosa em 1973 foram duas delas.
Tivemos ainda em nossas fileiras a presença de valores de alto quilate como Sérgio Bergantin, Lance, Zé Luis, Ademir, Zé Roberto, Washington Wilson Carrasco, entre tantos outros. Após a queda em 65, a Ferrinha teria mais duas perdas na década de 70: a morte do arqueiro Carlos Alberto em 1971 e a aposentadoria de Bazani em 73.
A primeira metade da década de 80 foi responsável por consolidar de vez o nome da Ferroviária em todos os rincões do Brasil, através das participações marcantes na Taça de Prata (1981 e 82) e a inesquecível campanha na Taça de Ouro em 1983, eliminando equipes tradicionais do futebol brasileiro.
O time fez também uma campanha primorosa no Paulista de 1985 e chegou à semifinal do certame. Motivo de orgulho para os afeanos foi o resultado obtido pela equipe no Paulista de 1993, quando a Ferroviária, comandada por Vail Mota, disputou o octogonal final da competição.
Nova Era
A segunda metade da década de 90 foi a mais dolorosa para o clube, em função dos descensos sequenciais que colocaram a Ferroviária na dura realidade da Série B1 em 2000. Uma corrente de apaixonados pelo time buscou as mais diversas fórmulas para a continuidade do futebol na cidade, e, capitaneados pelo então prefeito Edinho Silva, conseguiram que fosse implantada, no final de 2003, a Ferroviária S/A, empresa que passou a gerir o futebol profissional.
Os representantes do clube-empresa, o atual deputado estadual e o prefeito Marcelo Barbieri e toda a coletividade araraquarense são os responsáveis pela perpetuação do time, mesmo diante das dificuldades do futebol atual. Nesta quinta-feira o desejo de toda a torcida grená é que você Ferroviária, alcance todos triunfos possíveis e imagináveis, retome seu lugar ao sol no cenário paulista e nacional, para a infinita felicidade de sua torcida apaixonada. Todos estão junto com o time, vislumbrando novos caminhos para a Locomotiva que insiste em continuar.