Ato de intolerância racial na Unesp de Araraquara

Com a frase Sem cotas para os animais da África, autores demonstram o seu repúdio a presença dos africanos no campus

Fonte: JC Ernesto - Colaborador 17/04/2012 - 03h23

No dia 5 de abril de 2012, estudantes da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara ao passarem pelo subsolo, na área do vão acadêmico, se depararam com a seguinte pichação na parede: “Sem cotas para os animais africanos”. A frase era direcionada aos estudantes africanos oriundos do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação – PEC-G-, que oferece oportunidade de formação superior a cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais.
O professor Dagoberto José Fonseca, que coordena  os grupos de estudo da cultura africana do campus de Araraquara, disse estar indignado com uma atitude como essa. “Quando fiquei sabendo, fui ao local, vi o acontecido e, imediatamente,  entrei em contato com a policia a qual enviou sua equipe técnica para periciar o local  e dar inicio ao processo de investigação. Não sabemos quem são os autores, mas iremos descobrir”, relata.
De acordo com  Dagoberto, já foi encaminhado o pedido de instauração de sindicância interna para diretoria do campus, a qual ficou incumbida de tomar as medidas necessárias para a resolução desse episódio. O professor ressalta que, em maio, acontecerá diversos eventos em comemoração ao aniversário da África. “O Grupo União Africana – UA – durante as comemorações, trará esse assunto em pauta para debate. Depois iremos encaminhar esse caso formalmente aos Ministérios da Justiça, da Educação e Relação Exteriores", afirma.
O pós-doutorando em química Phanuel Saroni Arwa, natural do Quênia, disse que ficou surpreso com o fato ocorrido. Segundo Phanuel,  casos como esse não podem acontecer dentro de uma universidade tão importante como a Unesp. “Não estudo aqui na Letras, sou da Química. Lá, tenho um bom relacionamento com os outros estudantes, não só os brasileiros mas também com os estrangeiros. Quando estudei na  Alemanha passei por alguns transtornos, pois lá o povo é muito fechado, ao contrário dos brasileiros que são muito amigos e receptíveis”, conta.
Para Saroni, o que aconteceu na Unesp de Araraquara foi um fato isolado. “Quando chegar no meu país quero levar uma boa imagem do Brasil. Esse fato tem que ser combatido para não manchar a imagem dos brasileiros lá fora”. Já o estudante de Guiné - Bissau  Sumbunhe N´Fanda  disse que está com medo de que manifestações como essas podem afetar o seu dia-a-dia na cidade de Araraquara. “Não sabemos quais são as intenções dos  envolvidos nesse episódio de preconceito racial. Somos participantes de um convênio legal. No Brasil não tem apenas africanos  que fazem parte do PEC-C G. Temos estudantes de outros continentes. Mas porque só os africanos são perseguidos. Será que nesse caso os animais são realmente os estudantes africanos?” 
Já o estudante de Ciências Sociais Maxwell Martins conta que ficou envergonhado quando se deparou com a pichação de repúdio aos estudantes africanos. “Sou favorável não só a presença dos africanos, mas também a de outros estudantes estrangeiros. A visão de mundo , a experiência e o conhecimento que eles trazem  é extremamente essencial para o nosso aprendizado”, disse.  Para Maxwell, “os responsáveis têm que ser punidos. Nos brasileiros, estudantes acadêmicos, não podemos nos calar diante dessa situação”, finaliza.
A diretoria da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara foi procurada, mas até o momento não se pronunciou.
“O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética.... O que me preocupa é o silêncio dos bons.”
Martin Luther King