16/05/2012 - 03h46
A partir do tema “África, racismo e xenofobia”, a Faculdade de Ciências e Letras da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Câmpus de Araraquara, vai reunir, de 16 a 18 de maio, pesquisadores que estudam aquele continente e suas relações com o Brasil. A mesa de abertura do evento coloca em questão as manifestações de cunho racista contra alunos africanos ocorridas na faculdade, em abril, e denunciadas pela Unesp à Polícia Civil, à Polícia Federal e ao Ministério Público.
A mesa-redonda “Intercâmbio estudantil, racismo e xenofobia – a visão dos alunos africanos: depoimentos e reflexões” será realizada no dia 16, das 9h30 às 13 horas, e deverá contar com a participação de alunos dos países Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Congo.
O tema prossegue na segunda mesa-redonda, “O racismo e suas facetas no Brasil na visão dos grupos de estudos e pesquisas”, com início às 14 horas, quando serão apresentadas as análises de pesquisadores do Nupe (Núcleo Negro da Unesp para Pesquisa e Extensão) e do Cladin (Centro de Estudos de Culturas e Línguas Africanas e da Diáspora Negra).
Temas acadêmicos também estarão em pauta, como na mesa “Relação Brasil-África do Séc. XX ao XXI: a universidade e a internacionalização” e nas discussões sobre os intercâmbios e acordos científicos firmados entre o Brasil e os Palop (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), grupo formado por cinco países lusófonos africanos, ex-colônias de Portugal na África e que obtiveram a independência entre 1973 e 1975 (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe).
As mesas compõem a II Reunião Científica do Lead (Laboratório de Estudos Africanos, Afro-brasileiros e da Diversidade), vinculado à Faculdade de Ciências e Letras, e serão todas realizadas no anfiteatro Anfi-A. No dia 19 de maio, um evento cultural encerrará as atividades, com comidas, músicas e danças típicas africanas e afro-brasileiras, na Chácara Sapucaia, em Araraquara, a partir do meio-dia.
Segundo o antropólogo Dagoberto Fonseca, professor da Unesp e coordenador do Cladin, “a reunião do Lead, que teria como tema a universidade e a internacionalização da África no século 21, não vai perder de vista a questão acadêmica, mas, em função do que ocorreu fomos obrigados a introduzir uma questão mais política e, infelizmente, discutir o racismo. Não temos como não discutir, seria fazer de conta que não existiu”.
Fonseca adianta que, no dia 24 de maio, o assunto volta à pauta, na congregação aberta da Faculdade, quando serão recebidos o antropólogo moçambicano Carlos Subuhana – que cursou pós-graduação no Brasil e atualmente leciona na Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira) – e um representante da Embaixada da Guiné-Bissau no Brasil.
Providências
As manifestações de racismo ocorridas na Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara ocorreram em abril, quando frases ofensivas aos alunos africanos foram escritas anonimamente em uma parede da instituição. Como providências imediatas, a diretoria da faculdade nomeou uma comissão preliminar para apuração dos fatos. Além disso, notificou o ocorrido à Polícia Civil, à Polícia Federal e ao Ministério Público local. No dia 20 de abril, o Ministério Público abriu inquérito civil para apurar as denúncias.