<p style="text-align: justify;">A história cultural de Araraquara é marcada pela vinda do filósofo existencialista francês Jean Paul Sartre à cidade, no ano de 1960. Nodia 04 de setembro, comemoram-se os 52 anos desta ilustre visita e, para tanto, a Secretaria Municipal da Cultura e Fundart prepararam uma programação especial, com exibição de filme e palestra.<br />A comemoração será realizada em dois momentos: na terça-feira (04) será exibido o filme: “Os Amantes do Café de Flore” (Paris, 1887), às 20 horas; e na quarta (05) haverá uma palestra com o Prof. Dr. André Yazbek, professor de Filosofia do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Federal de Lavras (UFLA), às 19 horas. As duas atividades serão realizadas na Sala Jean-Paul Sartre, localizada na Casa da Cultura Luiz Antônio Martinez Corrêa, com entrada gratuita.<br />Para a secretária municipal da Cultura, Euzânia Andrade, "as atividades têm o objetivo de divulgar um importante momento da cultura nacional e internacional, com a presença de um dos maiores filósofos da história da humanidade e, Araraquara teve a honra de recebê-lo nesta mesma sala onde foi realizada a Conferência de Araraquara, com outras ilustres personalidades, em 1960". <br />“Os Amantes do Café de Flore” – O filme de 2006 retrata o relacionamento entre Simone e Sartre, tomando como ponto de vista o olhar de Simone para a situação.<br />É no bairro boêmio de St. Germain de Près, em Paris, que nasceu o Café de Flore. O nome foi inspirado pela estátua da deusa Flora, que ornava o outro lado da rua. Por lá passaram e fizeram história inúmeros artistas e intelectuais, entre eles a escritora francesa e mulher de Sartre, Simone de Beauvoir. O Café de Flore foi um local de muitos encontros para ela.<br />Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir aportaram no Café de Flore em 1939. Nas palavras de Sartre: "nós nos instalamos completamente: das nove da manhã ao meio-dia, trabalhávamos; saíamos para almoçar e voltávamos às duas, conversávamos com os amigos que tínhamos encontrado até às oito horas. Depois do jantar, recebíamos as pessoas que haviam marcado encontro. Pode parecer bizarro, mas no Flore estávamos em casa."<br />O casal de intelectuais, filósofos e escritores, praticamente se tornou a imagem de liberdade no chamado relacionamento do século XX. Criou-se uma imagem mítica entre ambos, porém os relatos biográficos apontam que a vida do casal não foi algo muito tranquilo no campo do amor inconseqüente e da libertinagem - houve também dor e ciúmes.<br />O filme é baseado na história real da vida de Beauvoir, e mostra sua vida sentimental e sexual, com direito a paixões paralelas - por isso o título “os amantes”. A escritora se apaixona pelo carismático e rebelde jovem Sartre e, juntos, embarcam numa viagem erótica e emocional, mas, depois de vinte anos na profunda perversão, Beauvoir encontra forças para reivindicar sua própria identidade e fama. Em uma viagem pela América, ela conhece Nelson Algren, futuro vencedor do prêmio Pulitzer, e descobre uma nova forma de viver a sexualidade. Depois de se apaixonar, ela escreve seu famoso livro “O Segundo Sexo”. Ao retornar a Paris, Simone se sente dividida: sem Nelson, sua vida fica vazia, e sem Sartre, sem significado. “Liberdade e engajamento na filosofia de Jean-Paul Sartre” – O Prof. Dr. André Yazbek recupera da obra filosófica, política, literária de Sartre, a sua liberdade e o seu engajamento, tendo como sustentação o célebre artigo “A República do Silêncio”, de 1944, em que Sartre decreta: “nunca fomos tão livres do que sob a ocupação alemã”.<br />Para André Yazbek, Doutor em Filosofia pelo Programa de Estudos Pós-graduados em Filosofia da PUC-SP, “a estranheza que essa declaração poderia suscitar – a afirmação da liberdade em meio à barbárie do cerco nazista à França – esconde, a bem dizer, o cerne do desafio político existencialista: figura modelar do ‘intelectual engajado’”, comenta.<br />De acordo com o professor, Sartre fez de sua própria filosofia a afirmação inequívoca do exercício de uma liberdade sempre situada. “Isto é, definitivamente encarnada em um mundo que a solicita sem tréguas; um mundo no qual a cena histórica objetivamente vivida não apontava para a realidade constituída do humano, mas sim para a sua total aniquilação”.<br />Vale destacar que Yazbek, além de professor adjunto de Filosofia da UFLA, é autor dos livros “Itinerários cruzados: os caminhos da contemporaneidade filosófica francesa nas obras de Jean-Paul Sartre e Michel Foucault” (2010) e “10 lições sobre Foucault” (2012). Sartre em Araraquara - A visita de Jean Paul Sartre e sua mulher Simone de Beavoir ao Brasil em 1960 foi um dos agitados acontecimentos culturais da época. Araraquara celebra ser a única cidade do interior onde Sartre passou. Acompanhado de Simone de Beauvoir, o filósofo participou de um debate no antigo Teatro Municipal, discutindo questões políticas com trabalhadores, tomou café no bar São Jorge (na avenida Duque de Caxias, ao lado do então, Teatro) e proferiu a célebre “Conferência de Araraquara”, na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (local onde está a Casa da Cultura), abordando temas filosóficos. A palestra foi gravada e, alguns anos depois, publicada em livro pela Editora Unesp, em francês e português.<br />A importância da vinda de Sartre pode ser dimensionada pela comitiva que o acompanhou, composta por personalidades como o professor Antônio Cândido, os sociólogos franceses Alain Touraine e Michel Debrun, o escritor Jorge Amado, o professor e sociólogo Fernando Henrique Cardoso, a antropóloga Ruth Corrêa Leite (posteriormente conhecida como Ruth Cardoso), os professores Lívio Teixeira e João Cruz Costa, o filósofo Bento Prado Junior, e o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa.<br />Sartre morreu aos 74 anos, no dia 15 de abril de 1980, de um edema pulmonar. Em sua última entrevista, a um jornal francês, declarou que jamais conhecera o desespero e a angústia. “Penso que a esperança faz parte do homem”, disse.Assim, aos araraquarenses cabe a missão de continuar a análise da filosofia, da sociologia, da política, da literatura e da arte teatral de Sartre, assim como despertar para novos rumos a seus ideais. <br />SERVIÇO:<br />52 anos da vinda de Sartre a Araraquara<br />Programação:<br />- Terça-feira (04/09), às 20 horas: exibição do filme “Os Amantes do Café de Flore”<br />-Quarta-feira (05/09), às 19 horas: palestra “Liberdade e engajamento na filosofia de Jean-Paul Sartre”, com o Prof. Dr. André Yazbek <br />Local: Sala Jean Paul Sartre, na Casa da Cultura Luiz Antônio Martinez Corrêa (Rua São Bento, 909 – Centro)<br />Entrada franca</p>