Atividades culturais celebram 52 anos da visita de Sartre a Araraquara

01/09/2012 - 04h11

<p style="text-align: justify;">A hist&oacute;ria cultural de Araraquara &eacute; marcada pela vinda do fil&oacute;sofo existencialista franc&ecirc;s Jean Paul Sartre &agrave; cidade, no ano de 1960. Nodia 04 de setembro, comemoram-se os 52 anos desta ilustre visita e, para tanto, a Secretaria Municipal da Cultura e Fundart prepararam uma programa&ccedil;&atilde;o especial, com exibi&ccedil;&atilde;o de filme e palestra.<br />A comemora&ccedil;&atilde;o ser&aacute; realizada em dois momentos: na ter&ccedil;a-feira (04) ser&aacute; exibido o filme: &ldquo;Os Amantes do Caf&eacute; de Flore&rdquo; (Paris, 1887), &agrave;s 20 horas; e na quarta (05) haver&aacute; uma palestra com o Prof. Dr. Andr&eacute; Yazbek, professor de Filosofia do Departamento de Ci&ecirc;ncias Humanas da Universidade Federal de Lavras (UFLA), &agrave;s 19 horas. As duas atividades ser&atilde;o realizadas na Sala Jean-Paul Sartre, localizada na Casa da Cultura Luiz Ant&ocirc;nio Martinez Corr&ecirc;a, com entrada gratuita.<br />Para a secret&aacute;ria municipal da Cultura, Euz&acirc;nia Andrade, "as atividades t&ecirc;m o objetivo de divulgar um importante momento da cultura nacional e internacional, com a presen&ccedil;a de um dos maiores fil&oacute;sofos da hist&oacute;ria da humanidade e, Araraquara teve a honra de receb&ecirc;-lo nesta mesma sala onde foi realizada a Confer&ecirc;ncia de Araraquara, com outras ilustres personalidades, em 1960".&nbsp;<br />&ldquo;Os Amantes do Caf&eacute; de Flore&rdquo; &ndash; O filme de 2006 retrata o relacionamento entre Simone e Sartre, tomando como ponto de vista o olhar de Simone para a situa&ccedil;&atilde;o.<br />&Eacute; no bairro bo&ecirc;mio de St. Germain de Pr&egrave;s, em Paris, que nasceu o Caf&eacute; de Flore. O nome foi inspirado pela est&aacute;tua da deusa Flora, que ornava o outro lado da rua. Por l&aacute; passaram e fizeram hist&oacute;ria in&uacute;meros artistas e intelectuais, entre eles a escritora francesa e mulher de Sartre, Simone de Beauvoir. O Caf&eacute; de Flore foi um local de muitos encontros para ela.<br />Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir aportaram no Caf&eacute; de Flore em 1939. Nas palavras de Sartre: "n&oacute;s nos instalamos completamente: das nove da manh&atilde; ao meio-dia, trabalh&aacute;vamos; sa&iacute;amos para almo&ccedil;ar e volt&aacute;vamos &agrave;s duas, convers&aacute;vamos com os amigos que t&iacute;nhamos encontrado at&eacute; &agrave;s oito horas. Depois do jantar, receb&iacute;amos as pessoas que haviam marcado encontro. Pode parecer bizarro, mas no Flore est&aacute;vamos em casa."<br />O casal de intelectuais, fil&oacute;sofos e escritores, praticamente se tornou a imagem de liberdade no chamado relacionamento do s&eacute;culo XX. Criou-se uma imagem m&iacute;tica entre ambos, por&eacute;m os relatos biogr&aacute;ficos apontam que a vida do casal n&atilde;o foi algo muito tranquilo no campo do amor inconseq&uuml;ente e da libertinagem - houve tamb&eacute;m dor e ci&uacute;mes.<br />O filme &eacute; baseado na hist&oacute;ria real da vida de Beauvoir, e mostra sua vida sentimental e sexual, com direito a paix&otilde;es paralelas - por isso o t&iacute;tulo &ldquo;os amantes&rdquo;. A escritora se apaixona pelo carism&aacute;tico e rebelde jovem Sartre e, juntos, embarcam numa viagem er&oacute;tica e emocional, mas, depois de vinte anos na profunda pervers&atilde;o, Beauvoir encontra for&ccedil;as para reivindicar sua pr&oacute;pria identidade e fama. Em uma viagem pela Am&eacute;rica, ela conhece Nelson Algren, futuro vencedor do pr&ecirc;mio Pulitzer, e descobre uma nova forma de viver a sexualidade. Depois de se apaixonar, ela escreve seu famoso livro &ldquo;O Segundo Sexo&rdquo;. Ao retornar a Paris, Simone se sente dividida: sem Nelson, sua vida fica vazia, e sem Sartre, sem significado.&nbsp;&ldquo;Liberdade e engajamento na filosofia de Jean-Paul Sartre&rdquo; &ndash; O Prof. Dr. Andr&eacute; Yazbek recupera da obra filos&oacute;fica, pol&iacute;tica, liter&aacute;ria de Sartre, a sua liberdade e o seu engajamento, tendo como sustenta&ccedil;&atilde;o o c&eacute;lebre artigo &ldquo;A Rep&uacute;blica do Sil&ecirc;ncio&rdquo;, de 1944, em que Sartre decreta: &ldquo;nunca fomos t&atilde;o livres do que sob a ocupa&ccedil;&atilde;o alem&atilde;&rdquo;.<br />Para Andr&eacute; Yazbek, Doutor em Filosofia pelo Programa de Estudos P&oacute;s-graduados em Filosofia da PUC-SP, &ldquo;a estranheza que essa declara&ccedil;&atilde;o poderia suscitar &ndash; a afirma&ccedil;&atilde;o da liberdade em meio &agrave; barb&aacute;rie do cerco nazista &agrave; Fran&ccedil;a &ndash; esconde, a bem dizer, o cerne do desafio pol&iacute;tico existencialista: figura modelar do &lsquo;intelectual engajado&rsquo;&rdquo;, comenta.<br />De acordo com o professor, Sartre fez de sua pr&oacute;pria filosofia a afirma&ccedil;&atilde;o inequ&iacute;voca do exerc&iacute;cio de uma liberdade sempre situada. &ldquo;Isto &eacute;, definitivamente encarnada em um mundo que a solicita sem tr&eacute;guas; um mundo no qual a cena hist&oacute;rica objetivamente vivida n&atilde;o apontava para a realidade constitu&iacute;da do humano, mas sim para a sua total aniquila&ccedil;&atilde;o&rdquo;.<br />Vale destacar que Yazbek, al&eacute;m de professor adjunto de Filosofia da UFLA, &eacute; autor dos livros &ldquo;Itiner&aacute;rios cruzados: os caminhos da contemporaneidade filos&oacute;fica francesa nas obras de Jean-Paul Sartre e Michel Foucault&rdquo; (2010) e &ldquo;10 li&ccedil;&otilde;es sobre Foucault&rdquo; (2012).&nbsp;Sartre em Araraquara - A visita de Jean Paul Sartre e sua mulher Simone de Beavoir ao Brasil em 1960 foi um dos agitados acontecimentos culturais da &eacute;poca. Araraquara celebra ser a &uacute;nica cidade do interior onde Sartre passou. Acompanhado de Simone de Beauvoir, o fil&oacute;sofo participou de um debate no antigo Teatro Municipal, discutindo quest&otilde;es pol&iacute;ticas com trabalhadores, tomou caf&eacute; no bar S&atilde;o Jorge (na avenida Duque de Caxias, ao lado do ent&atilde;o, Teatro) e proferiu a c&eacute;lebre &ldquo;Confer&ecirc;ncia de Araraquara&rdquo;, na Faculdade de Filosofia Ci&ecirc;ncias e Letras (local onde est&aacute; a Casa da Cultura), abordando temas filos&oacute;ficos. A palestra foi gravada e, alguns anos depois, publicada em livro pela Editora Unesp, em franc&ecirc;s e portugu&ecirc;s.<br />A import&acirc;ncia da vinda de Sartre pode ser dimensionada pela comitiva que o acompanhou, composta por personalidades como o professor Ant&ocirc;nio C&acirc;ndido, os soci&oacute;logos franceses Alain Touraine e Michel Debrun, o escritor Jorge Amado, o professor e soci&oacute;logo Fernando Henrique Cardoso, a antrop&oacute;loga Ruth Corr&ecirc;a Leite (posteriormente conhecida como Ruth Cardoso), os professores L&iacute;vio Teixeira e Jo&atilde;o Cruz Costa, o fil&oacute;sofo Bento Prado Junior, e o diretor de teatro Jos&eacute; Celso Martinez Corr&ecirc;a.<br />Sartre morreu aos 74 anos, no dia 15 de abril de 1980, de um edema pulmonar. Em sua &uacute;ltima entrevista, a um jornal franc&ecirc;s, declarou que jamais conhecera o desespero e a ang&uacute;stia. &ldquo;Penso que a esperan&ccedil;a faz parte do homem&rdquo;, disse.Assim, aos araraquarenses cabe a miss&atilde;o de continuar a an&aacute;lise da filosofia, da sociologia, da pol&iacute;tica, da literatura e da arte teatral de Sartre, assim como despertar para novos rumos a seus ideais.&nbsp;<br />SERVI&Ccedil;O:<br />52 anos da vinda de Sartre a Araraquara<br />Programa&ccedil;&atilde;o:<br />- Ter&ccedil;a-feira (04/09), &agrave;s 20 horas: exibi&ccedil;&atilde;o do filme &ldquo;Os Amantes do Caf&eacute; de Flore&rdquo;<br />-Quarta-feira (05/09), &agrave;s 19 horas: palestra &ldquo;Liberdade e engajamento na filosofia de Jean-Paul Sartre&rdquo;, com o Prof. Dr. Andr&eacute; Yazbek&nbsp;<br />Local: Sala Jean Paul Sartre, na Casa da Cultura Luiz Ant&ocirc;nio Martinez Corr&ecirc;a (Rua S&atilde;o Bento, 909 &ndash; Centro)<br />Entrada franca</p>