Vírus da dengue circula pela cidade desde 1988

Audiência na Câmara contou com as presenças de membros da Sucen e Ministério da Saúde

14/05/2011 - 02h40

Araraquara está perto de ter, confirmados, 2 mil casos de dengue. O anúncio foi feito na noite da última quinta-feira, durante a Audiência Pública realizada pela Câmara Municipal (12), com a finalidade de discutir a epidemia de dengue em Araraquara. A frase ganha ainda mais corpo porque seu autor, Eduardo Bergo, responde pela Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) na cidade. E ele disse mais.
“A situação em Araraquara é crítica. A doença mudou muito, outros tipos de vírus surgiram e se acontecer, por exemplo, de 10 a 15% desses doentes registrarem um tipo de dengue de maior gravidade, como ficarão as coisas? Teremos 200, 300 leitos para internar toda essa gente?”, perguntou Bergo, para espanto dos presentes.
O superintendente da Sucen fez questão de deixar claro que é muito fácil acabar com a doença. “É simples, e todo mundo sabe disso. Basta eliminarmos os criadouros”, falou. Ressaltando, porém, que embora simples, a solução, na prática, é muito mais difícil de ser a aplicada. “Precisamos de uma força tarefa, cujos maiores ‘soldados’ viriam da própria população, e é justamente aí que as coisas estão se complicando”.
 
1º caso registrado é de 1988

 Ainda durante a Audiência Pública – convocada por iniciativa da vereadora Márcia Lia (PT) -, a secretária municipal da Saúde, doutora Regina Barbieri, lembrou que o registro do 1º caso de dengue na cidade aconteceu no ano de 1988, quando apareceu na cidade um homem vindo do Rio de Janeiro.
“Ele circulou pela Vila Xavier, pelo Parque das Laranjeiras e nós ficamos muito assustados. Tínhamos certeza que uma epidemia eclodiria na cidade, mas naquele momento nada demais aconteceu”, explicou Regina . Destacando que na época a cidade era bem menor, e a população muito mais suscetível às campanhas lançadas pela municipalidade.“Araraquara tinha menos de 130 mil habitantes, e toda iniciativa lançada pela Prefeitura tinha imediata adesão da população. Hoje isso não acontece mais”, lamentou.
Regina disse ainda que algo deve ser feito de maneira urgente pelas autoridades para colocar um fim nessa epidemia. “Nossos agentes não estão agüentando mais carregar o piano, todos estão esgotados. Poucos dias atrás estivemos em um bairro e removemos um sofá e centenas de quilos de entulho de um terreno. Foi um trabalho cansativo. Menos de uma semana depois, voltamos ao local para fazer o rescaldo e os móveis estavam todos no terreno de novo. Ninguém agüenta isso”, protestou.
Em seguida, a secretária da Saúde afirmou que do jeito que as coisas estão na cidade seriam necessários pelo menos um agente para cada 40 araraquarenses. “Mas, como isso é impossível, e como a população não ajuda, nós vamos continuar tendo dengue na cidade”, disse. Destacando que Araraquara convive com o vírus da dengue já há 30 anos.
“O problema é que de lá para cá o mosquito mudou, a cidade cresceu, está tudo bem mais difícil, mas parece que pouca gente percebeu”, falou.
Regina revelou também que não foram poucas às vezes em que equipes da Vigilância passaram por residências de pessoas infectadas, e mesmo assim, voltaram a encontrar criadouros do mosquito transmissor no local. “E os moradores ainda reclamaram de nós. Disseram que nós não tínhamos nebulizado direito o bairro, veja se pode!”, reclamou, desanimada.
 
Novas estratégias

Prestigiada por inúmeras autoridades sanitárias e políticas, a Audiência realizada na Câmara Municipal contou também com o coordenador Geral do Combate a Dengue do Ministério da Saúde, Fábio Gaiger, que relatou em detalhes o Programa do Governo Federal responsável pela estratégia de controle da epidemia.
Ele falou, por exemplo, que os números caíram 54% no estados do Sudeste brasileiro, o que não serve para reduzir a gravidade do problema. “Os casos graves aumentaram bastante, até porque surgiram novos tipos de vírus”, ressaltou. Afirmando que qualquer planejamento de combate à epidemia deve, necessariamente envolver a população.
Participaram do evento na Câmara, além da secretária da Saúde e dos representantes do Ministério da Saúde e da Sucen, o Coordenador de Combate a Dengue da Vigilância, Rafael Dosualdo, o coordenador da Saúde da Secretaria Municipal da Saúde, Feiz Mattar, o chefe de Gabinete Toninho Martins, o secretário de Serviços, Paulo Maranata e os vereadores João Farias (PRB), Lucas Grecco (PMDB) e Elias Chediek (PMDB). Também se fizeram presentes a presidente do Conselho Municipal de Saúde, Rosana Nasser e o professor do curso de Biologia da Uniara, Juliano Corbi.
Ao final dos debates, que envolveram 19 oradores, a vereadora Márcia Lia agradeceu a presença de todos e anunciou que prepararia um relatório com os resultados da Audiência, a fim de apresentá-lo a Secretaria Municipal da Saúde e ao Comitê Municipal de Combate a Dengue. “Espero que possamos trabalhar juntos para colocar fim nessa epidemia, e acredito que uma das alternativas seria criarmos Comitês em Bairros”, encerrou.