<p style="text-align: justify;">Uma jovem loira, magra e bonita anda pelas ruas do centro da cidade acompanhada de uma amiga. Em uma loja de sapatos, alguns produtos chamam a atenção e elas param para observar. <br />Um homem se aproxima e diz que tem uma ótima oportunidade de emprego. Durante a conversa, oferece um bombom. A loira aceita, sua amiga não. O doce recheado com uma droga a faz acordar em um hotel. <br />Machucada, confusa e estuprada, ela é obrigada a ficar horas na presença de seu abusador, conversando com ele. Apesar de conseguir sair com vida do pesadelo, as sequelas permanecem. <br />Este caso foi real e é mais um estupro cometido por um estranho que está sendo investigado pela 1º Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). <br />O crime de estupro é cometido em sua esmagadora maioria por pessoas do convívio das vítimas, como um pai, padrasto, avô ou tio.<br />Quando o criminoso é um estranho, a vítima precisa ir à delegacia o mais rápido possível para facilitar o trabalho de investigação. <br />“A maioria das mulheres vai para casa assim que sofre a agressão, toma banho e fica lá um tempo e cheia de trauma, o que é perfeitamente aceitável. Mas o ideal é que elas não tomem banho - para que possamos colher algum material - e procurem a Delegacia da Mulher o mais rápido possível”, explica a delegada titular da 1º DDM, Celi Paulino Carlota. <br /><br /><br />Casos famosos<br /><br />Não é comum o estuprador ser alguém desconhecido, mas acontece. Quem não se lembra de Eugênio Chipkevitch, médico que foi condenado por abusar de seus pacientes, em 2002? Ele pedia para os pais esperarem em uma sala enquanto atendia. Durante a consulta, que custava mais de 200 reais, sedava garotos e fazia sexo com eles. Não contente, ele gravava o ato e via as fitas mais tarde para relembrar.<br />Outro caso famoso é do especialista em reprodução humana, Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de cadeia por estuprar mais de 100 pacientes em seu consultório. Ele dava a anestesia às mulheres que, enquanto dormiam, eram abusadas e até estupradas.<br />O mais recente caso foi o do ginecologista R.P., de 48 anos, que se demorava nos exames de toque em suas pacientes. Ele chegou a fazer movimentos bruscos com a mão que examinava uma mulher e ela teve a impressão de que o médico estaria se masturbando. R.P. já foi acusado por 7 mulheres e acabou preso pela 2º DDM.<br />Por conta de casos como esses, muitos médicos atualmente fazem o atendimento na companhia de uma enfermeira, explica a delegada Celi.<br />Delegado de carreira tem muita história para contar. No caso da delegada Celi Paulino Carlota, o que mais lhe marcou foi o de um homem que levou uma moça até uma casa abandonada, introduziu uma faca e um garfo em sua vagina. “Ele foi preso, não me lembro como, mas o que fez me chocou bastante”, confessa. <br /><br /><br />Perfil <br /><br />Celi afirma que os estupradores não têm um perfil completamente padronizado, mas a maioria tem entre 25 e 40 anos e é solteira. Outra característica é que eles sempre agem da mesma maneira, contam as mesmas histórias para as mulheres e as levam aos mesmos lugares. Eles também costumam agir entre a madrugada e o começo da manhã, quando as vítimas estão indo trabalhar. <br /><br /><br />Caçando os maníacos<br /><br />“Quanto mais rápido a vítima procurar uma delegacia, maior a chance de prender o estuprador”, diz a delegada. Segundo ela, a investigação é facilitada por conta das imagens das câmeras da Polícia Militar, da CET e da Guarda Municipal, além do comércio. O problema é que algumas têm um “prazo de validade” para guardar a imagem e, se for excedido, não há como identificar o suspeito. “Hoje em dia, dá para fazer tudo com câmeras. Estamos vivendo um tempo de Big Brother”, afirma. <br />O retrato falado é outro grande aliado da polícia. Carlota conta que, em vários casos, conseguiu encontrar o suspeito com a ajuda da imagem, que fica muito próxima da realidade. <br /><br /><br />O Tratamento<br /><br />Um dos problemas enfrentados pela polícia é a vergonha que a pessoa sente em registrar a ocorrência na delegacia. A delegada contou um caso de uma adolescente de 17 anos para exemplificar. <br />“Ela estava em uma rua do bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, esperando no ponto para ir ao curso de inglês. Um homem a forçou a entrar em um ônibus e fingir que era sua namorada, o que é muito comum. Depois de ser estuprada, a jovem foi até a polícia mas, por medo e vergonha, não contou o que realmente aconteceu e registrou o caso como constrangimento legal. Após o crime, ela não mudou seu percurso e foi violentada novamente pelo mesmo criminoso. Desta vez, a adolescente contou na delegacia. A polícia prendeu o criminoso. Se tivesse falado a verdade desde o começo, ele teria sido preso antes e o segundo abuso não teria acontecido”. <br />Assim que a mulher registra a ocorrência de estupro, ela é levada ao Hospital Pérola Byington em uma ambulância. Lá, ela faz um exame para coleta de D.N.A., toma um coquetel para evitar doenças venéreas, tem acompanhamento psicológico e jurídico. Em caso de gravidez, é feito o aborto. As DDMs atendem também casos envolvendo adolescentes e crianças.</p>