Denúncia rápida é a chave para investigação nas DDMs

A delegada Cali Paulino Carlota afirma que quanto mais rápida a denúncia, maiores as chances de prender o estuprador

18/09/2012 - 02h24

<p style="text-align: justify;">Uma jovem loira, magra e bonita anda pelas ruas do centro da cidade acompanhada de uma amiga. Em uma loja de sapatos, alguns produtos chamam a aten&ccedil;&atilde;o e elas param para observar.&nbsp;<br />Um homem se aproxima e diz que tem uma &oacute;tima oportunidade de emprego. Durante a conversa, oferece um bombom. A loira aceita, sua amiga n&atilde;o. O doce recheado com uma droga a faz acordar em um hotel.&nbsp;<br />Machucada, confusa e estuprada, ela &eacute; obrigada a ficar horas na presen&ccedil;a de seu abusador, conversando com ele. Apesar de conseguir sair com vida do pesadelo, as sequelas permanecem.&nbsp;<br />Este caso foi real e &eacute; mais um estupro cometido por um estranho que est&aacute; sendo investigado pela 1&ordm; Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).&nbsp;<br />O crime de estupro &eacute; cometido em sua esmagadora maioria por pessoas do conv&iacute;vio das v&iacute;timas, como um pai, padrasto, av&ocirc; ou tio.<br />Quando o criminoso &eacute; um estranho, a v&iacute;tima precisa ir &agrave; delegacia o mais r&aacute;pido poss&iacute;vel para facilitar o trabalho de investiga&ccedil;&atilde;o.&nbsp;<br />&ldquo;A maioria das mulheres vai para casa assim que sofre a agress&atilde;o, toma banho e fica l&aacute; um tempo e cheia de trauma, o que &eacute; perfeitamente aceit&aacute;vel. Mas o ideal &eacute; que elas n&atilde;o tomem banho - para que possamos colher algum material - e procurem a Delegacia da Mulher o mais r&aacute;pido poss&iacute;vel&rdquo;, explica a delegada titular da 1&ordm; DDM, Celi Paulino Carlota.&nbsp;<br /><br /><br />Casos famosos<br /><br />N&atilde;o &eacute; comum o estuprador ser algu&eacute;m desconhecido, mas acontece. Quem n&atilde;o se lembra de Eug&ecirc;nio Chipkevitch, m&eacute;dico que foi condenado por abusar de seus pacientes, em 2002? Ele pedia para os pais esperarem em uma sala enquanto atendia. Durante a consulta, que custava mais de 200 reais, sedava garotos e fazia sexo com eles. N&atilde;o contente, ele gravava o ato e via as fitas mais tarde para relembrar.<br />Outro caso famoso &eacute; do especialista em reprodu&ccedil;&atilde;o humana, Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de cadeia por estuprar mais de 100 pacientes em seu consult&oacute;rio. Ele dava a anestesia &agrave;s mulheres que, enquanto dormiam, eram abusadas e at&eacute; estupradas.<br />O mais recente caso foi o do ginecologista R.P., de 48 anos, que se demorava nos exames de toque em suas pacientes. Ele chegou a fazer movimentos bruscos com a m&atilde;o que examinava uma mulher e ela teve a impress&atilde;o de que o m&eacute;dico estaria se masturbando. R.P. j&aacute; foi acusado por 7 mulheres e acabou preso pela 2&ordm; DDM.<br />Por conta de casos como esses, muitos m&eacute;dicos atualmente fazem o atendimento na companhia de uma enfermeira, explica a delegada Celi.<br />Delegado de carreira tem muita hist&oacute;ria para contar. No caso da delegada Celi Paulino Carlota, o que mais lhe marcou foi o de um homem que levou uma mo&ccedil;a at&eacute; uma casa abandonada, introduziu uma faca e um garfo em sua vagina. &ldquo;Ele foi preso, n&atilde;o me lembro como, mas o que fez me chocou bastante&rdquo;, confessa.&nbsp;<br /><br /><br />Perfil&nbsp;<br /><br />Celi afirma que os estupradores n&atilde;o t&ecirc;m um perfil completamente padronizado, mas a maioria tem entre 25 e 40 anos e &eacute; solteira. Outra caracter&iacute;stica &eacute; que eles sempre agem da mesma maneira, contam as mesmas hist&oacute;rias para as mulheres e as levam aos mesmos lugares. Eles tamb&eacute;m costumam agir entre a madrugada e o come&ccedil;o da manh&atilde;, quando as v&iacute;timas est&atilde;o indo trabalhar.&nbsp;<br /><br /><br />Ca&ccedil;ando os man&iacute;acos<br /><br />&ldquo;Quanto mais r&aacute;pido a v&iacute;tima procurar uma delegacia, maior a chance de prender o estuprador&rdquo;, diz a delegada. Segundo ela, a investiga&ccedil;&atilde;o &eacute; facilitada por conta das imagens das c&acirc;meras da Pol&iacute;cia Militar, da CET e da Guarda Municipal, al&eacute;m do com&eacute;rcio. O problema &eacute; que algumas t&ecirc;m um &ldquo;prazo de validade&rdquo; para guardar a imagem e, se for excedido, n&atilde;o h&aacute; como identificar o suspeito. &ldquo;Hoje em dia, d&aacute; para fazer tudo com c&acirc;meras. Estamos vivendo um tempo de Big Brother&rdquo;, afirma.&nbsp;<br />O retrato falado &eacute; outro grande aliado da pol&iacute;cia. Carlota conta que, em v&aacute;rios casos, conseguiu encontrar o suspeito com a ajuda da imagem, que fica muito pr&oacute;xima da realidade.&nbsp;<br /><br /><br />O Tratamento<br /><br />Um dos problemas enfrentados pela pol&iacute;cia &eacute; a vergonha que a pessoa sente em registrar a ocorr&ecirc;ncia na delegacia. A delegada contou um caso de uma adolescente de 17 anos para exemplificar.&nbsp;<br />&ldquo;Ela estava em uma rua do bairro da Lapa, zona oeste de S&atilde;o Paulo, esperando no ponto para ir ao curso de ingl&ecirc;s. Um homem a for&ccedil;ou a entrar em um &ocirc;nibus e fingir que era sua namorada, o que &eacute; muito comum. Depois de ser estuprada, a jovem foi at&eacute; a pol&iacute;cia mas, por medo e vergonha, n&atilde;o contou o que realmente aconteceu e registrou o caso como constrangimento legal. Ap&oacute;s o crime, ela n&atilde;o mudou seu percurso e foi violentada novamente pelo mesmo criminoso. Desta vez, a adolescente contou na delegacia. A pol&iacute;cia prendeu o criminoso. Se tivesse falado a verdade desde o come&ccedil;o, ele teria sido preso antes e o segundo abuso n&atilde;o teria acontecido&rdquo;.&nbsp;<br />Assim que a mulher registra a ocorr&ecirc;ncia de estupro, ela &eacute; levada ao Hospital P&eacute;rola Byington em uma ambul&acirc;ncia. L&aacute;, ela faz um exame para coleta de D.N.A., toma um coquetel para evitar doen&ccedil;as ven&eacute;reas, tem acompanhamento psicol&oacute;gico e jur&iacute;dico. Em caso de gravidez, &eacute; feito o aborto. As DDMs atendem tamb&eacute;m casos envolvendo adolescentes e crian&ccedil;as.</p>