Antropólogo lança livro que mostra elos entre piadas e racismo

Obra cataloga anedotas e as interpreta à luz de relações entre negros e brancos

23/11/2012 - 03h05

<p style="text-align: justify;">No livro Voc&ecirc; conhece aquela? A piada, o riso e o racismo &agrave; brasileira (144 p., R$ 38,40), lan&ccedil;amento da Selo Negro Edi&ccedil;&otilde;es, o antrop&oacute;logo Dagoberto Jos&eacute; Fonseca, professor da Faculdade de Ci&ecirc;ncias e Letras da Unesp, C&acirc;mpus de Araraquara, cataloga diversas anedotas contadas no territ&oacute;rio brasileiro, interpretando-as &agrave; luz das rela&ccedil;&otilde;es raciais entre negros e brancos.<br />Nesse percurso, ele descobre nas piadas novas e antigas manifesta&ccedil;&otilde;es sociais que ganham vida num universo engendrado pela produ&ccedil;&atilde;o cultural e pela hist&oacute;ria local, fazendo parte de um interc&acirc;mbio entre a l&iacute;ngua, o poder, a for&ccedil;a da palavra e de suas representa&ccedil;&otilde;es.<br />Trata-se de um estudo in&eacute;dito nas ci&ecirc;ncias sociais visando analisar as mensagens transmitidas pelas piadas que difundem, consolidam e denunciam a exist&ecirc;ncia do preconceito, da discrimina&ccedil;&atilde;o, da marginaliza&ccedil;&atilde;o e dos estere&oacute;tipos contra os afro-brasileiros na sociedade. Ao abordar o &ldquo;racismo &agrave; brasileira&rdquo; de modo amplo, o autor problematiza suas diferentes facetas partindo de piadas cujos protagonistas s&atilde;o os negros brasileiros.<br />Segundo Fonseca, as piadas racistas aparentemente diminu&iacute;ram de intensidade, mas agora est&atilde;o em ambientes mais reservados. &ldquo;Al&eacute;m disso, muitos negros perceberam o rid&iacute;culo a que eram submetidos e n&atilde;o deixam mais que zombem de si, de seus costumes e pr&aacute;ticas culturais&rdquo;, complementa o antrop&oacute;logo.<br />Dividida em quatro cap&iacute;tulos, a obra traz um di&aacute;logo entre antropologia e hist&oacute;ria. No primeiro cap&iacute;tulo, o autor demonstra que o ato de rir &eacute; uma express&atilde;o universal situada no tempo e no espa&ccedil;o dos diversos grupos humanos. Retorna aos per&iacute;odos medieval, renascentista e iluminista vividos pela sociedade ocidental europeia com o intuito de compreender a forma e a disposi&ccedil;&atilde;o que esse ato adquiriu na Europa. Al&eacute;m disso, ele busca na cultura e na cosmovis&atilde;o nag&ocirc; entender o riso entre os africanos e os afro-brasileiros. &ldquo;Mesmo estando ciente de que a cultura nag&ocirc; n&atilde;o abrange toda a &Aacute;frica, considero valios&iacute;ssima sua contribui&ccedil;&atilde;o cultural, pol&iacute;tica e ps&iacute;quica para nossa sociedade&rdquo;, complementa o autor.<br />No segundo cap&iacute;tulo, Fonseca desenvolve a tese de que a piada &eacute; um discurso informal que fomenta preconceitos, estere&oacute;tipos e discrimina&ccedil;&otilde;es etnorraciais, mas tamb&eacute;m denuncia a exist&ecirc;ncia dessas distor&ccedil;&otilde;es sociais. &ldquo;A piada, cujo intuito &eacute; provocar o riso e dissimular conflitos, revela com jeitinho a fragilidade da democracia etnorracial e social brasileira e, ainda, torna transparente a tentativa padronizadora perpetrada pelo branqueamento&rdquo;, explica o autor.<br />O terceiro cap&iacute;tulo analisa as piadas de uma perspectiva hist&oacute;rico-antropol&oacute;gica, utilizando a contribui&ccedil;&atilde;o de outras ci&ecirc;ncias e informa&ccedil;&otilde;es consideradas significativas. Al&eacute;m disso, o autor traz duas pessoas fict&iacute;cias para dialogar de maneira simples e objetiva entre uma piada e outra. J&aacute; no &uacute;ltimo cap&iacute;tulo, Fonseca abre caminho para uma discuss&atilde;o mais profunda e ampla sobre as rela&ccedil;&otilde;es etnorraciais no Brasil, avaliando as quest&otilde;es que aparecem ao longo do texto.<br />Para o antrop&oacute;logo, hoje, o conte&uacute;do das piadas acentua seu car&aacute;ter classista e regionalista, demarcando quem &eacute; quem pela renda e pelo poder de consumir. &ldquo;Seus alvos s&atilde;o o empobrecido, o miser&aacute;vel, mas elas continuam a atingir uma maioria negra invis&iacute;vel &agrave; estrutura social. Os pobres, os desempregados, os assassinados, os violentados t&ecirc;m a mesma cor &ndash; a negra. Isso n&atilde;o &eacute; piada nem mera coincid&ecirc;ncia&rdquo;, conclui o autor.<br /><br />O autor<br /><br />Dagoberto Jos&eacute; Fonseca &eacute; doutor em Ci&ecirc;ncias Sociais pela Pontif&iacute;cia Universidade Cat&oacute;lica de S&atilde;o Paulo. &Eacute; docente da Faculdade de Ci&ecirc;ncias e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp), estando vinculado ao Departamento de Antropologia, Pol&iacute;tica e Filosofia e ao Programa de P&oacute;s-Gradua&ccedil;&atilde;o em Ci&ecirc;ncias Sociais da mesma institui&ccedil;&atilde;o. Entre 2002 e 2007, foi coordenador executivo do N&uacute;cleo Negro da Unesp para Pesquisa e Extens&atilde;o (Nupe). Atualmente, coordena o Centro de Estudos das Culturas e L&iacute;nguas Africanas e da Di&aacute;spora Negra (Cladin) e o Laborat&oacute;rio de Estudos Africanos, Afro-Brasileiros e da Diversidade, tamb&eacute;m da Unesp. Lan&ccedil;ou, pela Selo Negro Edi&ccedil;&otilde;es, o livro Pol&iacute;ticas p&uacute;blicas e a&ccedil;&otilde;es afirmativas, que faz parte da Cole&ccedil;&atilde;o Consci&ecirc;ncia em Debate.<br /><br />FICHA T&Eacute;CNICA<br /><br />T&iacute;tulo: Voc&ecirc; conhece aquela? A piada, o riso e o racismo &agrave; brasileira<br />Autor: Dagoberto Jos&eacute; Fonseca<br />Editora: Selo Negro Edi&ccedil;&otilde;es<br />Pre&ccedil;o: R$ 38,40 (ebook R$ 26,90)<br />P&aacute;ginas: 144 (14 x 21 cm)<br />ISBN: 978-85-87478-71-9<br />Atendimento ao consumidor: 11-3865-9890<br />Site: www.selonegro.com.br</p>