<p style="text-align: justify;">No início de fevereiro, o Papa Bento XVI anunciou sua renúncia, que acontece oficialmente no dia 28, ao pontificado, causando a comoção e especulação de fiéis e da mídia de todo o mundo. O último Pontífice a renunciar foi Gregório XII, em 1415.<br />O teólogo e coordenador do curso de Pedagogia do Centro Universitário de Araraquara – Uniara, Uiliam Folsta, fala sobre o assunto e explica os possíveis motivos que levaram o Papa a tomar essa decisão.<br />“Do ponto de vista religioso, vejo nessa decisão um ato de profunda fé. Bento XVI acredita ser apenas um servidor de Deus. Por isso, não sentiu que teria capacidade para continuar seu trabalho”, comenta.<br />De acordo com ele, a mídia analisa o fato levando em consideração e tentando entender o que aconteceu ou acontece em Roma. “Cada um especula dentro de sua visão, seja ela filosófica, teológica, capitalista, socialista, com ou sem fé, do senso comum, de amigo ou inimigo”, afirma.<br />Segundo Folsta, a decisão foi uma surpresa. “Não houve manifestação explícita por parte do Vaticano sobre uma possível renúncia. A leitura se faz depois dos atos ou palavras do Pontífice sobre sua decisão. O que importa é que a demonstração inesperada de carinho, mesmo em meio as violentas críticas recebidas pelo Papa. Isso mostra que os verdadeiros católicos sabem separar o joio do trigo”, conta.<br />Para o docente, as críticas à Igreja não influenciaram na decisão do ‘Bispo de Roma’. “Pela sua formação e maturidade, não acredito nessa hipótese. Foi falado até em fracasso do Papa e em seu trabalho à frente da Igreja, como se ele fosse um executivo. Críticas violentas ao catolicismo sempre existiram, basta olhar a história. Desde os primórdios, ou seja, há dois mil anos, a instituição católica tem passado por grandes tormentas. Basta ler os evangelhos e as epístolas. Ela já foi perseguida e também perseguidora. Hoje, caminha firme e orientando com grandeza”, explica.<br />Sobre a especulação de que o Papa estaria com uma doença grave, o professor afirma que mesmo se essa informação for verdadeira, não seria por isso que ele deixaria a imensa responsabilidade de condutor da Igreja. “Ele esperaria a morte iminente no ‘cargo’. Creio que sua decisão de renúncia está na impossibilidade de, pela idade, levar a cabo, como ele mesmo disse, uma renovação da Igreja, que deve ser interpretada como um simples, mas profundo apelo de mudança espiritual e desapego ao materialismo consumista. Ou então, seria uma maneira de provocar alterações na estrutura eclesial com a eleição de um cardeal renovador”, comenta.<br />Segundo o teólogo, “ao contrário do que certos meios de comunicação propagam, não há alvoroço eleitoral, no colégio dos cardeais. Só eles escolhem o Chefe da Igreja”. “É claro que existem correntes de pensamento que se confrontam na escolha, e é óbvio que as qualidades que o novo Pontífice deve ter são discutidas e, por meio desse consenso, o novo líder da Igreja é escolhido”, completa.<br />De acordo com o coordenador, não há a possibilidade de imaginar quem será o novo Papa. “Pelo Direito Canônico, qualquer fiel pode ser o Sumo Pontífice. Porém, é claro, que na prática, isso se tornou inviável, dada a complexidade da função. Entre os cardeais, não há destaques, como a imprensa discute. A eleição pode surpreender. Até hoje, a escolha de João XXIII foi uma surpresa”, comenta.<br />Para o docente, a decisão de Bento XVI enalteceu a imagem da Igreja. “A grandeza de seu gesto será entendida melhor no futuro”, finaliza.</p>