Luis Antonio–Gabriela abre oficialmente Virada em Araraquara

Fotógrafo: Sergio Pierri
23/05/2013 - 02h54

<p style="text-align: justify;">O Palco Interno da Virada Cultural Paulista, localizado no Teatro Municipal, abre oficialmente a programa&ccedil;&atilde;o do evento no s&aacute;bado, &agrave;s 18 horas, com o aclamado espet&aacute;culo teatral &ldquo;Luis Antonio&ndash;Gabriela&rdquo;, de Nelson Bakersville, com a Cia. Munguz&aacute;. Os ingressos para o espet&aacute;culo s&atilde;o gratuitos e devem ser retirados uma hora antes da apresenta&ccedil;&atilde;o, na bilheteria do teatro (um ingresso por pessoa).<br />A programa&ccedil;&atilde;o dos eventos realizada pelo Governo do Estado de S&atilde;o Paulo, em parceria com a Prefeitura de Araraquara e o Sesc-Araraquara, nos dias 25 e 26 de maio, apresenta alguns dos melhores espet&aacute;culos de teatro, dan&ccedil;a e circo da atualidade, oferecendo aos espectadores pe&ccedil;as e coreografias recentes, aclamadas pelo p&uacute;blico e pela cr&iacute;tica especializada.&nbsp;<br />Araraquara ter&aacute; tr&ecirc;s apresenta&ccedil;&otilde;es de artes c&ecirc;nicas no s&aacute;bado (25/5), come&ccedil;ando &agrave;s 18h30, e mais tr&ecirc;s no domingo (26/5), a partir das 11h.&nbsp;<br />Em Araraquara, a abertura oficial no palco do Teatro Municipal ser&aacute; feita pela Cia. Munguz&aacute;, com &ldquo;Luis Antonio &ndash; Gabriela&rdquo;. O texto autobiogr&aacute;fico exp&otilde;e os conflitos de uma fam&iacute;lia conservadora nos anos 70 a partir da hist&oacute;ria do filho mais velho, Luiz Ant&ocirc;nio. Homossexual, ele desafia fam&iacute;lia e parte para a Espanha com o nome de Gabriela. Tida como forte, comovente e inquietante pela cr&iacute;tica, a pe&ccedil;a promete mexer com o p&uacute;blico.&nbsp;<br />O diretor Nelson Baskerville foi o vencedor do Pr&ecirc;mio Shell e da Cooperativa Paulista de S&atilde;o Paulo, como melhor diretor, pelo espet&aacute;culo &ldquo;Luis Antonio-Gabriela&rdquo;. Tamb&eacute;m, Marcos Felipe, o ator protagonista do espet&aacute;culo, foi indicado ao Pr&ecirc;mio Shell e APCA de melhor ator.<br />A programa&ccedil;&atilde;o do s&aacute;bado, no Teatro Municipal, conta ainda com: apresenta&ccedil;&atilde;o circense &ldquo;Vida&rdquo;, &agrave;s 20h, com o Circo do Asfalto (&aacute;rea externa do teatro); os Seresteiros da Viola, &agrave;s 21h; e a apresenta&ccedil;&atilde;o musical da Fanfarra Funk, &agrave;s 22h, na &aacute;rea externa.<br />No domingo, ainda no Teatro Municipal, haver&aacute;: teatro infantil &ldquo;Um Ratinho e a Lua&rdquo;, com a Cia. Fios de Sombra, &agrave;s 11h; o Circo Del&iacute;rio, com o espet&aacute;culo &ldquo;Cabar&eacute; do Mercosul&rdquo;, &agrave;s 14h30; e o espet&aacute;culo de dan&ccedil;a &ldquo;Tu Sois de Onde?&rdquo;, com o Grupo Peleja, &agrave;s 16h.<br />&nbsp;Luis Antonio-Gabriela &ndash; O diretor Nelson Baskerville coloca em cena sua pr&oacute;pria hist&oacute;ria, onde o irm&atilde;o mais velho, homossexual, Luis Antonio, desafia as regras de uma fam&iacute;lia conservadora dos anos 1960 e parte para a Espanha sob o nome de Gabriela.<br />O document&aacute;rio c&ecirc;nico &ldquo;Luis Antonio &ndash; Gabriela&rdquo; tem in&iacute;cio no ano de 1953, com o nascimento de Luis Antonio, filho mais velho de cinco irm&atilde;os que passou inf&acirc;ncia, adolesc&ecirc;ncia e parte da juventude em Santos at&eacute; ir embora para Espanha, aos 30 anos.&nbsp;<br />O espet&aacute;culo foi constru&iacute;do a partir de documentos e dos depoimentos do ator e diretor Nelson Baskerville, de sua irm&atilde; Maria Cristina, de Doracy, sua madrasta e de Serginho, cabelereiro em Santos e amigo de Luis Antonio, e narra sua hist&oacute;ria at&eacute; o ano de 2006, data de sua morte em Bilbao onde vivera at&eacute; ent&atilde;o como Gabriela.<br />Em plena ditadura militar brasileira, o garoto que desde pequeno n&atilde;o escondia sua homossexualidade, era espancado pelo pai, com o intuito de que fosse &ldquo;curado&rdquo;. Obviamente logo ele ganhou a rua e o pulo para a marginalidade foi sua &uacute;nica sa&iacute;da. Com aplica&ccedil;&otilde;es de silicone, Luis Antonio foi se travestindo e, j&aacute; como Gabriela, parte para Bilbao, na Espanha, onde chega a ser estrela das boates. Viciada em drogas e v&iacute;tima de Aids, Gabriela morre em 2006, aos 53 anos.<br />Com muita criatividade, a Cia. Mungunz&aacute; relata a vida de Luis Antonio-Gabriela, usando v&iacute;deos, telas do artista pl&aacute;stico Thiago Hattner e elementos c&ecirc;nicos pendurados em toda a extens&atilde;o do espa&ccedil;o c&ecirc;nico.&nbsp;<br />&ldquo;Luis Antonio&ndash;Gabriela&rdquo; &eacute; um espet&aacute;culo que passou a fazer parte dos livros de Hist&oacute;ria do Teatro Brasileiro. &Eacute; hoje refer&ecirc;ncia art&iacute;stica, tema de pesquisas acad&ecirc;micas e se j&aacute; se pode dizer que a Cia Mungunz&aacute; de teatro, juntamente, com seu &ldquo;Luis Antonio-Gabriela&rdquo; escreve uma nova hist&oacute;ria.<br />O espet&aacute;culo recebeu os seguintes pr&ecirc;mios: Pr&ecirc;mio Bravo &ndash; indica&ccedil;&atilde;o de melhor espet&aacute;culo, 5 indica&ccedil;&otilde;es ao Pr&ecirc;mio Shell (eleito Melhor Dire&ccedil;&atilde;o), 3 indica&ccedil;&otilde;es ao APCA (eleito Melhor Espet&aacute;culo de 2011), 3 indica&ccedil;&otilde;es ao Pr&ecirc;mio Cooperativa Paulista de Teatro (eleito Melhor Dire&ccedil;&atilde;o e Projeto Visual), vencedor 12&ordm; Pr&ecirc;mio APOLBGT Cidadania em Respeito &agrave; Diversidade (categoria Artes C&ecirc;nicas), vencedor em 4 categorias (ator, espet&aacute;culo, ilumina&ccedil;&atilde;o e figurino) pelo portal R7, indicado ao Pr&ecirc;mio Governador para o melhor espet&aacute;culo do ano (J&uacute;ri T&eacute;cnico), eleito Melhor espet&aacute;culo do Ano pelo premio Governador do Estado (j&uacute;ri popular), eleito um dos melhores espet&aacute;culos do ano pelos ve&iacute;culos (Veja, Estad&atilde;o e Folha de S&atilde;o Paulo).<br />&nbsp;Sobre a companhia - A Cia Mungunz&aacute; de Teatro nasceu em S&atilde;o Paulo no ano de 2006 por meio da uni&atilde;o atores rec&eacute;m formados, motivados a aprofundar as t&eacute;cnicas aprendidas, e assim desenvolver um estudo detalhado do Teatro &Eacute;pico de Brecht e de linguagens estabelecidas na contemporaneidade.<br />O grupo &eacute; formado pelo diretor Nelson Baskerville, pelos atores Day Porto, Sandra Modesto, Ver&ocirc;nica Gentilin, Virg&iacute;nia Iglesias, Lucas Beda e Marcos Felipe; pelo m&uacute;sico Gustavo Sarzi e pelo t&eacute;cnico performer Pedro Augusto.&nbsp;<br /><br />Confira as palavras do diretor do espet&aacute;culo, irm&atilde;o de Luis Antonio-Gabriela:<br />&nbsp;&ldquo;Em 2002, recebi uma liga&ccedil;&atilde;o de minha segunda m&atilde;e, Doracy &ndash; segunda m&atilde;e porque minha primeira faleceu ap&oacute;s o meu parto, fazendo meu pai, Paschoal, vi&uacute;vo com seis filhos, casar com a Dona Doracy, vi&uacute;va com tr&ecirc;s filhos, quando eu tinha dois anos &ndash; ela me ligou pra dizer que Luis Antonio havia morrido na Espanha. Luis Antonio, pra mim, era aquele irm&atilde;o, oito anos mais velho, que sempre mantive na sombra. S&oacute; alguns poucos amigos sabiam da sua exist&ecirc;ncia, ele era aquele que, al&eacute;m de me seduzir, e abusar sexualmente, fazia com que muitos dedos da cidade de Santos fossem apontados pra n&oacute;s, os &lsquo;irm&atilde;os da bicha&rsquo;, &lsquo;a fam&iacute;lia do pederasta&rsquo; e outros nomes. Sou obrigado a confessar que a not&iacute;cia da morte dele n&atilde;o me abalou nem um pouco. Eram quase 30 anos sem saber nada dele, sem saber se ele estava vivo ou morto, enfim, liguei pra minha irm&atilde;, Maria Cristina, advogada para passar a not&iacute;cia pra frente e a preocupa&ccedil;&atilde;o imediata dela foi com os pap&eacute;is, atestado de &oacute;bito, documenta&ccedil;&atilde;o para o esp&oacute;lio, etc.<br />Mas n&atilde;o sab&iacute;amos nada do fato e nem ao menos o local exato de sua morte. Maria Cristina empreendeu ent&atilde;o uma jornada fadada ao fracasso que era saber not&iacute;cias do paradeiro dele. Depois de alguns meses, atrav&eacute;s da embaixada brasileira na Espanha ela o encontrou. Mas n&atilde;o exatamente da forma que esperava. Luis Antonio estava vivo, morava em Bilbao e a partir disso come&ccedil;amos a tentar formar e entender aquela lacuna de 30 anos que nos separavam dele. Minha irm&atilde;, numa aventura &lsquo;almodovariana&rsquo; foi encontr&aacute;-lo. Luis Antonio chamava-se agora Gabriela, tinha sido uma estrela das noites de Bilbao, era viciada em coca&iacute;na e AIDS era a menor das suas doen&ccedil;as. Atrav&eacute;s da Maria Cristina, passamos ent&atilde;o a ter not&iacute;cias dele at&eacute; sua morte, agora verdadeira, em 2006.<br />As perguntas mais frequentes dos amigos ao saberem da hist&oacute;ria eram: mas voc&ecirc;s nunca mais se viram? Resposta: nunca. Por que n&atilde;o o trouxeram de volta ao Brasil quando o encontraram doente? Resposta: porque n&atilde;o. Voc&ecirc; n&atilde;o foi nem ao enterro? N&atilde;o. &ldquo;Fiz esse espet&aacute;culo.&rdquo;<br /><br />Nelson Baskerville</p>