<p style="text-align: justify;">O Palco Interno da Virada Cultural Paulista, localizado no Teatro Municipal, abre oficialmente a programação do evento no sábado, às 18 horas, com o aclamado espetáculo teatral “Luis Antonio–Gabriela”, de Nelson Bakersville, com a Cia. Munguzá. Os ingressos para o espetáculo são gratuitos e devem ser retirados uma hora antes da apresentação, na bilheteria do teatro (um ingresso por pessoa).<br />A programação dos eventos realizada pelo Governo do Estado de São Paulo, em parceria com a Prefeitura de Araraquara e o Sesc-Araraquara, nos dias 25 e 26 de maio, apresenta alguns dos melhores espetáculos de teatro, dança e circo da atualidade, oferecendo aos espectadores peças e coreografias recentes, aclamadas pelo público e pela crítica especializada. <br />Araraquara terá três apresentações de artes cênicas no sábado (25/5), começando às 18h30, e mais três no domingo (26/5), a partir das 11h. <br />Em Araraquara, a abertura oficial no palco do Teatro Municipal será feita pela Cia. Munguzá, com “Luis Antonio – Gabriela”. O texto autobiográfico expõe os conflitos de uma família conservadora nos anos 70 a partir da história do filho mais velho, Luiz Antônio. Homossexual, ele desafia família e parte para a Espanha com o nome de Gabriela. Tida como forte, comovente e inquietante pela crítica, a peça promete mexer com o público. <br />O diretor Nelson Baskerville foi o vencedor do Prêmio Shell e da Cooperativa Paulista de São Paulo, como melhor diretor, pelo espetáculo “Luis Antonio-Gabriela”. Também, Marcos Felipe, o ator protagonista do espetáculo, foi indicado ao Prêmio Shell e APCA de melhor ator.<br />A programação do sábado, no Teatro Municipal, conta ainda com: apresentação circense “Vida”, às 20h, com o Circo do Asfalto (área externa do teatro); os Seresteiros da Viola, às 21h; e a apresentação musical da Fanfarra Funk, às 22h, na área externa.<br />No domingo, ainda no Teatro Municipal, haverá: teatro infantil “Um Ratinho e a Lua”, com a Cia. Fios de Sombra, às 11h; o Circo Delírio, com o espetáculo “Cabaré do Mercosul”, às 14h30; e o espetáculo de dança “Tu Sois de Onde?”, com o Grupo Peleja, às 16h.<br /> Luis Antonio-Gabriela – O diretor Nelson Baskerville coloca em cena sua própria história, onde o irmão mais velho, homossexual, Luis Antonio, desafia as regras de uma família conservadora dos anos 1960 e parte para a Espanha sob o nome de Gabriela.<br />O documentário cênico “Luis Antonio – Gabriela” tem início no ano de 1953, com o nascimento de Luis Antonio, filho mais velho de cinco irmãos que passou infância, adolescência e parte da juventude em Santos até ir embora para Espanha, aos 30 anos. <br />O espetáculo foi construído a partir de documentos e dos depoimentos do ator e diretor Nelson Baskerville, de sua irmã Maria Cristina, de Doracy, sua madrasta e de Serginho, cabelereiro em Santos e amigo de Luis Antonio, e narra sua história até o ano de 2006, data de sua morte em Bilbao onde vivera até então como Gabriela.<br />Em plena ditadura militar brasileira, o garoto que desde pequeno não escondia sua homossexualidade, era espancado pelo pai, com o intuito de que fosse “curado”. Obviamente logo ele ganhou a rua e o pulo para a marginalidade foi sua única saída. Com aplicações de silicone, Luis Antonio foi se travestindo e, já como Gabriela, parte para Bilbao, na Espanha, onde chega a ser estrela das boates. Viciada em drogas e vítima de Aids, Gabriela morre em 2006, aos 53 anos.<br />Com muita criatividade, a Cia. Mungunzá relata a vida de Luis Antonio-Gabriela, usando vídeos, telas do artista plástico Thiago Hattner e elementos cênicos pendurados em toda a extensão do espaço cênico. <br />“Luis Antonio–Gabriela” é um espetáculo que passou a fazer parte dos livros de História do Teatro Brasileiro. É hoje referência artística, tema de pesquisas acadêmicas e se já se pode dizer que a Cia Mungunzá de teatro, juntamente, com seu “Luis Antonio-Gabriela” escreve uma nova história.<br />O espetáculo recebeu os seguintes prêmios: Prêmio Bravo – indicação de melhor espetáculo, 5 indicações ao Prêmio Shell (eleito Melhor Direção), 3 indicações ao APCA (eleito Melhor Espetáculo de 2011), 3 indicações ao Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro (eleito Melhor Direção e Projeto Visual), vencedor 12º Prêmio APOLBGT Cidadania em Respeito à Diversidade (categoria Artes Cênicas), vencedor em 4 categorias (ator, espetáculo, iluminação e figurino) pelo portal R7, indicado ao Prêmio Governador para o melhor espetáculo do ano (Júri Técnico), eleito Melhor espetáculo do Ano pelo premio Governador do Estado (júri popular), eleito um dos melhores espetáculos do ano pelos veículos (Veja, Estadão e Folha de São Paulo).<br /> Sobre a companhia - A Cia Mungunzá de Teatro nasceu em São Paulo no ano de 2006 por meio da união atores recém formados, motivados a aprofundar as técnicas aprendidas, e assim desenvolver um estudo detalhado do Teatro Épico de Brecht e de linguagens estabelecidas na contemporaneidade.<br />O grupo é formado pelo diretor Nelson Baskerville, pelos atores Day Porto, Sandra Modesto, Verônica Gentilin, Virgínia Iglesias, Lucas Beda e Marcos Felipe; pelo músico Gustavo Sarzi e pelo técnico performer Pedro Augusto. <br /><br />Confira as palavras do diretor do espetáculo, irmão de Luis Antonio-Gabriela:<br /> “Em 2002, recebi uma ligação de minha segunda mãe, Doracy – segunda mãe porque minha primeira faleceu após o meu parto, fazendo meu pai, Paschoal, viúvo com seis filhos, casar com a Dona Doracy, viúva com três filhos, quando eu tinha dois anos – ela me ligou pra dizer que Luis Antonio havia morrido na Espanha. Luis Antonio, pra mim, era aquele irmão, oito anos mais velho, que sempre mantive na sombra. Só alguns poucos amigos sabiam da sua existência, ele era aquele que, além de me seduzir, e abusar sexualmente, fazia com que muitos dedos da cidade de Santos fossem apontados pra nós, os ‘irmãos da bicha’, ‘a família do pederasta’ e outros nomes. Sou obrigado a confessar que a notícia da morte dele não me abalou nem um pouco. Eram quase 30 anos sem saber nada dele, sem saber se ele estava vivo ou morto, enfim, liguei pra minha irmã, Maria Cristina, advogada para passar a notícia pra frente e a preocupação imediata dela foi com os papéis, atestado de óbito, documentação para o espólio, etc.<br />Mas não sabíamos nada do fato e nem ao menos o local exato de sua morte. Maria Cristina empreendeu então uma jornada fadada ao fracasso que era saber notícias do paradeiro dele. Depois de alguns meses, através da embaixada brasileira na Espanha ela o encontrou. Mas não exatamente da forma que esperava. Luis Antonio estava vivo, morava em Bilbao e a partir disso começamos a tentar formar e entender aquela lacuna de 30 anos que nos separavam dele. Minha irmã, numa aventura ‘almodovariana’ foi encontrá-lo. Luis Antonio chamava-se agora Gabriela, tinha sido uma estrela das noites de Bilbao, era viciada em cocaína e AIDS era a menor das suas doenças. Através da Maria Cristina, passamos então a ter notícias dele até sua morte, agora verdadeira, em 2006.<br />As perguntas mais frequentes dos amigos ao saberem da história eram: mas vocês nunca mais se viram? Resposta: nunca. Por que não o trouxeram de volta ao Brasil quando o encontraram doente? Resposta: porque não. Você não foi nem ao enterro? Não. “Fiz esse espetáculo.”<br /><br />Nelson Baskerville</p>