Trabalho de reflorestamento identifica animais ameaçados na região do Ribeirão das Cruzes
17/07/2013 - 01h51
Meio ambiente
Nesta quarta-feira, 17 de julho, é comemorado o Dia de Proteção às Florestas com o objetivo de conscientizar a população da necessidade de manter e recuperar as áreas verdes devastadas. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, por meio da Gerência de Proteção à Fauna, avança no trabalho de preservação e conhecimento sobre a fauna que habita as áreas verdes que margeiam o Ribeirão das Cruzes.
A pesquisa envolve aspectos físicos, biológicos, sociais e econômicos e vem sendo realizada pelos biólogos João Henrique Barbosa e Paula Fernanda Fernandez. A junção destes dados vem proporcionando uma visão mais ampla dos impactos a que esta bacia está sujeita e, assim, auxiliando na construção de estratégias para a conservação, recuperação e monitoramento deste ambiente, responsável por grande parte do abastecimento de água do município.
Neste projeto, os pesquisadores buscam por aves, mamíferos, répteis, anfíbios e peixes. O resultado é surpreendente, pois a pesquisa neste primeiro trimestre já identificou 196 espécies de animais distribuídas pelos quatro grupos amostrados avifauna (aves: 126), herpetofauna (répteis e anfíbios: 41), mastofauna (mamíferos: 23) e ictiofauna (peixes: 6).
Para o secretário municipal do Meio Ambiente, José dos Reis Santos Filho, “repôr as matas e árvores que existiam e foram deterioradas ou exterminadas pelo desenvolvimento desordenado tem criado uma série de condições para que os animais voltassem a existir em Araraquara. O fato de encontrar na cidade pelo menos duas espécies que estão em vias de extinção no Estado, só aumenta o estímulo para o trabalho de preservação do verde na cidade.”
De acordo com o biólogo Barbosa, a fauna serve como bioindicador de qualidade ambiental sendo a ocorrência ou não de uma determinada espécie ou grupo de animais o bastante para inferir sobre a necessidade de conservação e recuperação de uma área ou ainda se as medidas que já foram tomadas neste sentido estão surtindo o efeito.
Vale destacar que espécies praticamente ameaçadas de extinção estão sendo identificadas por meio da pesquisa que foi iniciada em abril deste ano e que tem previsão de término para julho de 2014. O levantamento visa identificar o maior número possível de espécies, saber sua composição e localização ao longo do espaço e tempo.
Barbosa lembra que algumas das espécies identificadas encontram-se na lista de espécies ameaçadas no Estado de São Paulo em situação crítica ou preocupante, devido à degradação dos seus habitats naturais, que são as florestas. “A ocorrência destas espécies está diretamente ligada ao intenso trabalho de reflorestamento realizado em toda a bacia do Ribeirão das Cruzes. Nos últimos quatro anos, desde a criação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, a Prefeitura reflorestou todas as áreas verdes municipais, resultando em 100% de reflorestamento, dando condições para a manutenção de uma rica biodiversidade”.
O biólogo explica que a identificação de espécies ameaçadas nestas áreas indica a melhoria da qualidade ambiental, uma vez que estas possuem hábitos restritos e necessitam de vários atributos ecológicos. “A ocorrência destas espécies demonstra que o trabalho de reflorestamento vem sendo bem realizado”.
Aves - Dentre as espécies de aves encontradas, destaca-se a presença de espécies frugívoras de grande porte, como a jacupemba, espécie classificada como “Quase Ameaçada”. Esta ave que se alimenta de frutos, flores, folhas e brotos, é dispersora de sementes auxiliando no restabelecimento da floresta. Devido aos seus hábitos restritivos de alimentação e de necessitar de grandes áreas para sua subsistência, a identificação desta ave dentro dos limites do município, evidência a qualidade da conservação deste ambiente.
Também, outras duas espécies ameaçadas foram identificadas: pipira-da-taoca (Lanio penicillata) e o chorozinho-do-bico-comprido (Herpsilochmus longirostris), ambas classificadas como “Em Perigo” na lista de espécies do Brasil e "Criticamente Ameaçadas" no Estado de São Paulo. Elas vivem em bando misto nas vegetações ribeirinhas a procura de pequenos insetos e formigas que representam a sua dieta alimentar. Apesar de insetívoras, estas duas espécies alimentam-se apenas de alguns grupos de insetos, tornando sua ocorrência um bioindicador de qualidade ambiental.
Esta restrição alimentar torna estas espécies suscetíveis a pequenas alterações nos ambientes, sendo a fragmentação das áreas verdes e a redução de seu habitat os principais fatores de sua ameaça no Estado. Medidas de conservação que estão sendo tomadas em Araraquara contribuem para que não ocorra à extinção desta espécie no Estado.
Mamíferos – Quatro espécies de mamíferos da lista de animais ameaçados do Estado de São Paulo também já foram identificadas na região do Ribeirão das Cruzes: Leopardus tigrinus (gato-do-mato), Leopardus pardalis (jaguatirica), Puma concolor (onça-parda) eMazama americana (veado-mateiro).
Todas estas espécies estão classificadas como “Vulneráveis”, ou seja, espécies que apresentam um alto risco de extinção em médio prazo. A situação é decorrente de alterações ambientais preocupantes ou da redução populacional ou ainda da diminuição da área de distribuição das espécies em questão.
“Dos três felinos identificados foram coletadas pegadas em diferentes áreas dentro de toda a extensão do Ribeirão das Cruzes. Isto demonstra que estas áreas servem como corredores ecológicos, e sua preservação e recomposição está diretamente ligada à ocorrência destes organismos”, explica Barbosa.
O veado-mateiro, identificado na nascente do Ribeirão das Cruzes, representa um importante achado do ponto de vista ecológico, pois ele compõe a dieta alimentar de grandes felinos, como a onça-parda. “O monitoramento da comunidade destes animais será utilizada para indicar áreas onde podemos realizar uma intensificação dos trabalhos de recomposição florestal a fim de melhorar as qualidades ambientais já existentes, visando a preservação desta espécie”, conta o biólogo.
Todas as informações científicas atuais e os dados já coletados sobre a fauna que ocorre no município indicam a importância da manutenção destas áreas verdes como medida pró-ativa para prevenir que as matas percam sua diversidade biológica, qualidade e funcionamento ecológico.
“O governo Marcelo Barbieri está mostrando o acerto e, por isso, comemoramos o Dia de Proteção às Florestas de uma forma extremamente positiva. Todos estão de parabéns porque ao lado da preservação das árvores, também caminhamos na preservação de nossos mananciais, já que o plantio das árvores protege a água da cidade”, destacou o secretário do Meio Ambiente.