A ÓPERA DA CLASSE OPERÁRIA

01/06/2011 - 19h09

O heavy metal, desde que veio a esta acinzentada Matrix disfarçada com flores coloridas, é extremamente amaldiçoado pelos críticos dos “bons costumes”, pois suas mentes fechadas não concebem o alto teor alegórico contido nas roupas pretas, nas caveiras e no pesado som caótico dos nossos queridos bangers. Mas o que os tais críticos preferem ignorar são algumas pesquisas, como a que diz que crianças super dotadas ouvem heavy metal, pois este vem de encontro as suas angústias e frustrações, ou a uma outra que diz que, em momentos de crise financeira, o metal tende a servir de válvula de escape a jovens que, de outra maneira, mergulhariam na criminalidade.
Como supracitado, o metal (como é carinhosamente chamado por nós os apreciadores de seus diversos subgêneros) tem uma carga alegórica muito forte, o que não é muito compreendido pelas pessoas que vêem uma camiseta ou uma capa de álbum de soslaio, ou ouvem de longe aquele adolescente maluco no seu quarto extravasando a raiva do mundo. O que mais se ouve é que heavy metal é coisa do demônio!!! Mas os “demônios” (alegóricos também) são excomungados através das letras raivosas de protesto e dos instrumentais maravilhosamente distorcidos! Claro que existem algumas bandas que, por um marketing vagabundo, dizem que adoram o demônio, mas essas são pouquíssimas, pois a maioria não pratica tal absurdo ideológico, apenas tem opiniões heterodoxas em relação à maioria da sociedade, que prefere não pensar quando se trata de mexer com seus valores intocáveis. E essa é talvez a mais nobre das funções da Arte (além da Estética), o de incomodar as pessoas, fazê-las pensar um pouquinho sobre questões tapadas com uma peneira (e que fedem pra burro!).
Uns dias atrás, Bruce Dickinson, vocal do Iron Maiden, disse, epicamente, que o heavy metal é a ópera da classe, o que num determinado contexto, pode até ser verdade, o que é demonstrado pela tal pesquisa citada na introdução do presente artigo, que diz o metal é a válvula de escape da garotada em épocas de crise. E como a arte que mistura música e teatro criada pelos artistas da Camerata Fiorentina na Itália seiscentista, o metal narra as agruras de uma sociedade pautada pelas aparências e pelo poder minoritário. Em síntese, o bom e velho heavy metal tem muita lenha para queimar pois, ao que tudo indica, o mundo vai de mal a pior.