10/09/2013 - 02h26
Unidas pelo segundo objetivo da temporada, ficar com uma das três vagas para a Copa do Brasil do ano que vem (o primeiro objetivo era vencer os Jogos Regionais – missão cumprida em julho), Guerreiras Grenás alcançam empate histórico na Arena da Fonte após sair perdendo de 2 a 0. Andressa Alves, de pênalti, e Raquel, de falta, anotaram para a Ferroviária/Fundesport, que vai à semifinal do Paulista
A Arena da Fonte voltou a ser para a Ferroviária/Fundesport um palco de revés, angústia, catarse e redenção – nesta ordem. Depois de conquistar a medalha de ouro nos Jogos Regionais deste ano nos pênaltis – precisando converter a última cobrança da série inicial para levar a decisão para as alternadas –, sob chuva fina constante e um frio incomum em Araraquara naquela tarde de julho, as Guerreiras Grenás fizeram na manhã de hoje (8/9) o que parecia impossível: mesmo com placar adverso de 2 a 0, desta vez sob sol de brasa, a equipe conseguiu chegar ao empate heróico – fazendo 3 a 3 no agregado –, que a coloca na fase semifinal do Campeonato Paulista e a deixa próxima da vaga para a Copa do Brasil de 2014 – para não depender de combinações, basta uma vitória nos dois confrontos contra a Francana, independente de avançar ou não.
“Por mais que o planejamento exija que a tática e a técnica se sobressaiam, o futebol, em alguns momentos, é coração. E hoje o coração desta equipe prevaleceu”, definiu o técnico afeano Douglas Onça, visivelmente emocionado.
O revés
Apesar de precisar da vitória, o São Caetano começou a partida sem afobação. Posicionou-se bem na defesa e meio-campo, deixando uma linha de três atacantes à frente, com Cacau, Gláucia e Karen. Desde o início, a equipe do ABC dava mostras de que exploraria os contra-ataques.
Aos 20 minutos, Gláucia aproveitou a bobeira da Ferroviária na saída de bola, ganhou de Thaísa, conduziu, dividiu com Tayla, ficou com a sobra e bateu de longe, no ângulo de Luciana.
As Guerreiras acusaram o golpe. O time até criou boas oportunidades para igualar o marcador, mas a ansiedade gerava seguidos passes errados, a maioria fácil. Saindo de suas características, as meninas levantaram várias bolas à área do Azulão, todas sem sucesso.
No intervalo, Onça elogiou a postura tática da Ferroviária e valorizou a disposição do adversário. “Nós estamos jogando bem. Só que do outro lado tem uma equipe de muita qualidade. Vamos precisar nos movimentar mais e melhor pelas pontas, com Adriane Nenê e Andressa Alves”, avaliou. A meia Erikinha não voltou. Onça colocou a centroavante Ludmila em seu lugar.
O cenário ficou ainda mais complicado quando Cacau ampliou, aos cinco do segundo tempo. Ela recebeu na direita, dominou e tocou com leveza, encobrindo Luciana. A goleira afeana ainda resvalou na bola, mas não a impediu de morrer mansamente nas redes: São Caetano 2 a 0.
Sem perder tempo, Onça sacou a lateral-esquerda Rilany e mandou a campo a zagueira Marina, que, pela estatura e capacidade técnica, foi jogar de centroavante com Ludmila.
A angústia
Diante de tamanho calor, o São Caetano passou a dosar as energias. Defendia-se com segurança e atacava em contragolpes perigosos. Em um deles, Luciana salvou a Ferroviária após a conclusão de Karen.
Bastante organizado em campo e bem postado no setor defensivo, o São Caetano não dava espaços para a Ferroviária. Além da excelente equipe visitante, as anfitriãs sentiam a aflição do relógio.
A catarse
A reação afeana teve início aos 22 minutos. Numa cobrança de escanteio, a árbitra apontou pênalti após empurra-empurra na área. Andressa Alves bateu com tranquilidade, goleira de um lado, bola do outro, e diminuiu.
Logo após a cobrança, o jogo foi paralisado. As atletas, como no primeiro tempo, puderam se hidratar para a metade derradeira do período. Onça pediu calma. “Vamos do nosso jeito: pressionando com toque de bola. Vamos evoluir trocando passes”, insistiu.
Com raça e o apoio da torcida, as Guerreiras passaram a encurralar o São Caetano. Raquel sofreu falta perto da meia-lua e se posicionou com Andressa Alves. A camisa 10 afeana, lembrando o ídolo grená Wilson Carrasco em seus momentos mais brilhantes na antiga Fonte Luminosa, cobrou com perfeição. Viviane voou para a bola, que ainda tocou o travessão antes de entrar: 2 a 2.
A redenção
Ainda que exausto, não restava alternativa ao São Caetano. Empenhado em conseguir o terceiro gol, o time se lançou ao ataque. Mas foi a Ferroviária que quase virou. Adriane Nenê recebeu na intermediária, deixou a zaga para trás, conduziu para a esquerda e, já na grande área, tentou um toque sutil, que saiu pela linha de fundo.
As defensoras centrais da Ferroviária, Tayla, Mônica e Marina ganhavam todas pelo alto. Cansado, o São Caetano falhou na pontaria em duas tentativas de finalização, que saíram por cima da meta de Luciana.
A salvação, que consagra a campanha invicta da Ferroviária até aqui, com 10 vitórias e quatro empates, veio com o apito final. Onça correu da área técnica para o centro do gramado e foi abraçado por jogadoras. Via-se que muitas estavam esparramadas pelo campo, deitadas, comovidas, ainda incrédulas com a façanha.
A Ferroviária enfrenta agora a Francana, que venceu o Centro Olímpico em São Paulo por 3 a 1, contrariando as expectativas – a equipe do Interior tinha sido derrotada em seus domínios, no final de semana passado, por 1 a 0. O primeiro jogo vai ser realizado em Franca, no final de semana que vem. A Federação deve determinar a data e o horário amanhã (9/9).
Antes de descer para o vestiário, a meia Raquel, artilheira da Ferroviária e do campeonato, foi categórica em relação à pergunta sobre o gol decisivo. “Se me perguntasse antes do jogo, eu responderia que troco todos por um. E ele aconteceu”.
ESCALAÇÃO DA FERROVIÁRIA/FUNDESPORT: Luciana; Daiane (capitã), Tayla, Mônica e Rilany (Marina); Thaísa. Beatriz, Erikinha (Ludmila) e Raquel; Adriane Nenê e Andressa Alves. Técnico: Douglas Onça.