Autor: Thiago Diniz
03/06/2011 - 01h57
O filósofo Ortega y Gasset dizia que a história caminha e procede por gerações e que existe uma afinidade verdadeira entre os homens de uma mesma geração. Ele considerava uma geração uma zona de 15 anos, determinada por uma data central, constituída de sete anos antes e sete depois. Um homem pertence, pois, a uma geração que é comum a todos os que nasceram dentro dessa zona de datas. No entanto, essa afinidade não vem tanto deles, mas sim de se verem obrigados a viver num mundo que tem uma forma determinada e única.
Não posso dizer ter pertencido à mesma geração do Dr. Célio Biller Teixeira, falecido no dia 1 de junho, aos 80 anos, nem que ele pertencia à geração de meu pai, mas posso afirmar, que durante um certo período, embora ocasionalmente, partilhamos de sua vivência. Um homem digno, de caráter.
Os araraquarenses mais antigos certamente o conheceram bem. Funcionário do DER, advogado e jornalista de “O Imparcial”, fez parte do antigo PSP, legenda pela qual foi eleito vereador durante dois anos; renunciou ao seu mandato, mas continuou a militar na política pelo Partido Socialista Brasileiro.
Idealista de esquerda, participou nos anos 50 das campanhas em favor da Petrobrás — “O Petróleo é Nosso” — e pela proibição das armas atômicas; em comícios contra a carestia e pela aprovação do salário mínimo, pois fazia parte do chamado Núcleo Nacionalista da cidade. Quando vereador, na década de 60, propôs a legalização do Partido Comunista Brasileiro e protestou contra as medidas tomadas pelos norte-americanos na ONU contra Kruschev, então premier da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e Fidel Castro, de Cuba.
Era uma época de grande efervescência política, o da chamada Revolução de 64. O prefeito na ocasião, Rômulo Lupo, cumprindo o Ato Institucional, de 9 de abril de 1964, que determinava a abertura de inquérito, com prazo pré-fixado, contra as pessoas que teriam atentado contra a “segurança do País, o regime democrático e a probidade da administração pública”, nomeou uma comissão para apurar os fatos.
Vários vereadores e pessoas de certa projeção na cidade foram ouvidos, mas, ao que se saiba, nada foi apurado. E um dos que prestaram depoimento foi o Dr. Célio Biller Teixeira, que informou à comissão sobre sua militância política, sobejamente conhecida da população, mas que nunca teve por objetivo atentar contra o previsto no Ato Institucional.
E depois dos depoimentos, depois de perceber as injustiças que poderiam ser cometidas por meras perseguições político-partidárias e até mesmo por inconfessáveis interesses particulares, a pretexto das ideológicas, um dos membros da referida comissão renunciou, pois não se conformava com os rumos que estavam sendo tomados pelos detentores do poder na ocasião. Foi daí que se consolidou uma amizade, que faço questão de recordar, em homenagem ao Dr. Célio Biller. Um homem de bem, um idealista.
Luiz Carlos Bedran é advogado e colaborador da Folha da Cidade