Fazendo história

25/03/2014 - 04h56

“Isto aqui não é um uniforme, é uma camisa com história. E para vesti-la é preciso coração”. Após bronca do técnico da Ferroviária/Fundesport, Douglas Onça, em referência ao primeiro tempo apático, Guerreiras Grenás acordam, chamam os mais de mil torcedores na Arena para jogar juntos, fazem 3 a 0 no Picos (PI) e, pela primeira vez disputando o torneio, chegam à inédita final da Copa do Brasil. Campeão representará o país na Libertadores da América 

Nunca o futebol de Araraquara levou o nome da cidade tão longe numa competição da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), entidade que organiza a modalidade no país: a Ferroviária/Fundesport está na final da Copa do Brasil de futebol feminino. 

Criado inicialmente para o futebol masculino, o torneio, disputado pela primeira vez em 1989, foi criado com o intuito de valorizar os estaduais e, principalmente, democratizar o futebol brasileiro, com a inclusão de times de todas as unidades federativas. 

As meninas da Ferroviária viveram essa democratização desde o final de janeiro e, entre trechos percorridos de ônibus e conexões em aeroportos, viajaram quase 15 mil quilômetros para chegar à decisão. O trajeto feito em campo até aqui é quase irretocável: sete vitórias e uma derrota, 49 gols pró e apenas três sofridos – todos na mesma partida. 

As Guerreiras Grenás desbancaram União (de Alagoas), Sport Recife, São Francisco (da Bahia) e Picos (do Piauí). Jogou no Rei Pelé, em Maceió, na Ilha do Retiro, em São Francisco do Conde, interior baiano, e em Picos, interior piauiense. Só perdeu, na ida, para o São Francisco: revés por 3 a 2 – o primeiro da equipe em competições oficiais desde 2012. 

Hoje (23/3) à tarde, na Arena da Fonte, a Ferroviária/Fundesport derrotou o Picos (PI) por 3 a 0, fez 5 a 0 no agregado, e está na final. Os placares podem não refletir a qualidade da equipe nordestina. Mas o fato é que a goleira afeana Luciana foi eleita a melhor em campo lá e aqui. 

Após um primeiro tempo pouco inspirado, em que o Picos (PI) esteve mais perto de abrir o marcador – situação evitada por Luciana em ao menos três oportunidades –, as Guerreiras Grenás voltaram mais concentradas para a etapa complementar e construíram o resultado logo que a bola rolou. 

Após passe rasteiro e preciso de Paula em diagonal, Raquel dominou e carregou a bola para dentro da grande área, em velocidade e escorando sua marcadora. Quando chegou próxima da pequena área, finalizou cruzado, com categoria, na saída de Iza. As atletas do Piauí acusaram o golpe. 

Mais compacto do que no primeiro tempo, o time de Araraquara chegava em bloco, com seus característicos passes curtos e velozes, sempre verticais. A própria Raquel, também em diagonal pela direita, teve mais duas chances, mas Iza fez duas grandes e improváveis defesas. 

A final ficou mais próxima na metade do segundo tempo, quando Maurine cruzou em falta cobrada pela direita e a zagueira Marina subiu e testou firme, no canto esquerdo de Iza, sem chance. 

O terceiro foi um golaço. Adriane Nenê recebeu na direita e cruzou. A zaga afastou. A bola pingou na linha da grande área e Raquel, da meia-lua, desferiu uma patada de peito de pé, estufando as redes da Arena. 

“Foram dois ótimos jogos. A Ferroviária mereceu passar de fase. Boa sorte na final”, desejou o técnico do Picos (PI), Yslan Batista. 

Enquanto as Guerreiras Grenás se abraçavam no vestiário, comemorando o estágio superado, o técnico Douglas Onça se mostrava inquieto, ansioso. “Copa do Brasil é assim: termina uma batalha, já vem outra pela frente”. Pela mídia jornalística local, que cobria a partida, Onça ficou sabendo que o São José havia avançado, após eliminar o Vitória de Santo Antão (PE) com um empate de 1 a 1 em casa – na ida, em Pernambuco, vitória do time do Vale do Paraíba pelo placar mínimo. 

As datas já estão confirmadas. Ferroviária e São José se enfrentam nesta quarta (26/3) e no próximo domingo (30/3). Amanhã (24/3), o sorteio na CBF, às 14h, define os locais. 

“O São José é uma equipe muito, muito forte”, comentou Onça. “Nas finais do Paulista [2013], houve empate nos dois jogos. Tudo bem que, lá, sofremos o gol de empate aos 48 do segundo tempo e que, aqui, desperdiçamos um pênalti quando o jogo estava 1 a 1. Mas não vencemos. Serão duas partidas complicadas”, prevê. 

A campanha do São José é composta por sete partidas – na primeira fase, a Águia venceu o Foz Cataratas (PR) por 3 a 0 fora de casa e eliminou o jogo da volta. Depois, passou por Rio Preto – com derrota por 3 a 2 em São José do Rio Preto e vitória em casa por 1 a 0 –, Kindermann (SC) – 3 a 2 em casa e empate sem gols em Santa Catarina – e Vitória de Santo Antão (PE). 

A capitã Daiane lamenta a falta de tempo para uma preparação mais folgada, mas ressalta que a dificuldade também recai sobre o São José. “Vamos para a final em condições iguais. Temos de descansar hoje e já começar o trabalho amanhã. O fator psicológico será determinante para o nosso sucesso”, avalia. 

O campeão da Copa do Brasil será indicado pela CBF para representar o país na Taça Libertadores da América, que deve acontecer em novembro. A Conmebol, entidade que dirige o futebol sul-americano, ainda não decidiu o local do torneio – diferente da competição masculina, a Libertadores feminina tem sede fixa.

 

FICHA TÉCNICA

 

Ferroviária/Fundesport (SP) 3 x 0 SEP-Picos (PI)

Data: 23/03/14 | 16h

Local: Arena da Fonte

Cidade: Araraquara (SP)

Arbitragem: Antonio Rogério Batista do Prado (CBF-1/SP)

 

FERROVIÁRI/FUNDESPORT: Luciana; Daiane, Marina, Géssica e Mônica; Bia, Maurine (Ana Cristina 83’), Patrícia e Raquel; Adriane Nenê e Paula (Dioneide 59’). Técnico: Douglas Onça.

 

SOCIEDADE ESPORTIVA DE PICOS (SEP): Iza; Edilaine, Saymon, Simeia e Lusinete; Leal (Josikelle 61’), Negona, Vilma e Grazi; Juju e Taci (Jenifer 72’). Técnico: Yslan Batista.

 

GOLS: Raquel (47’ e 70’) e Marina (65’)

CARTÕES AMARELOS: Simeia (Picos)